sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Śrī Tantrālokaḥ [invocações - versos 1-21]

श्रीतन्त्रालोकः

ŚRĪ TANTRĀLOKAḤ



Śrīmadabhinavaguptapādācāryaviracitaḥ


Maṅgala Stuti[1]


{} विमलकलाश्रयाभिनवसृस्तिमहाजननी
भरिततनुश्च पन्चमुखगुप्तरुप्तरुचिर्जनकः
तदुभययामलस्फुरितभावविर्सगमयं
हृदयमनुत्त्रमृतकुलं मम संस्फुर्तात् ॥१॥

vimalakalāśrayābhinavasṛstimahājananī
bharitatanuśca pancamukhaguptaruptarucirjanakaḥ
tadubhayayāmalasphuritabhāvavirsagamayaṃ
hṛdayamanuttramṛtakulaṃ mama saṃsphurtāt ||1||

Ela é gloriosa, a Criação sempre nova;[2] sua fundação, o puro néctar da Lua. Seu corpo está cheio e seu segredo[3] é a Luz adornada com cinco faces. Que a Família[4] do néctar[5] do Absoluto[6], o meu coração, a emissão[7] vibrante e resplandecente do casal unido, Pai e Mãe, pulse.[8]

नौमि चित्प्रतिभां देवीं परां भैरवयोगिनीम्
मतृमानप्रमेयांशशूलाम्बुजकृतास्पदां ॥२॥

naumi citpratibhāṃ devīṃ parāṃ bhairavayoginīm  |
matṛmānaprameyāṃśaśūlāmbujakṛtāspadāṃ  ||2||

Eu saúdo a Suprema Deusa Pratibhā,[9] que está além, é infinita e repousa na consciência suprema. Tu que estás unida a Bhairava, cujo assento é o lótus do tridente, além dos três estados da mente.[10]

नौमि देविम् शरीरस्थां नृत्यतो भैरवाकृते
प्रावृण्मेघघनव्योमविद्युल्लेखाविलासिनीम् ॥३॥

naumi devim śarīrasthāṃ nṛtyato bhairavākṛte  |
prāvṛṇmeghaghanavyomavidyullekhāvilāsinīm  ||3||

Eu saúdo a Deusa Inferior,[11] que é como um súbito relâmpago[12] produzido das nuvens que cobrem o céu tempestuoso e que reside no sempre dançante corpo de Bhairava.[13]

दीप्तज्योतिश्चताप्लुष्तभेदबन्धत्रयं स्फुरत्
स्ताज्ज्न्आनशूलं सत्पक्षविपक्षोत्कर्तनक्षमम् ॥४॥

dīptajyotiśchatāpluṣtabhedabandhatrayaṃ sphurat  |
stājjñānaśūlaṃ satpakṣavipakṣotkartanakṣamam  ||4||

Que a luz resplandecente do Conhecimento[14] destrua os três grilhões[15] com seus raios crepitantes cujo poder consome os obstáculos da bem-aventurança universal e individual.[16]

स्वात्रन्त्र्यशक्तिः क्रमसंसिसृक्षा क्रमात्मता चेति विभोर्विभूतिः
तदेव देवीत्रयमन्तरास्तामनुत्तरं मे प्रथत्स्वरूपम् ॥५॥

svātrantryaśaktiḥ kramasaṃsisṛkṣā kramātmatā ceti vibhorvibhūtiḥ  |
tadeva devītrayamantarāstāmanuttaraṃ me prathatsvarūpam  ||5||

Que as três Deusas do poder glorioso do Senhor Todo Penetrante,[17] que são a absoluta autonomia do Supremo,[18] o poder de sua vontade para criar o processo[19] da manifestação do universo e o seu próprio poder, que são os esplendores de Paramaśiva, revele-me o Absoluto,[20] que é minha verdadeira natureza interior.

तद्देवताविभवभाविमहाम्मरीचि
चक्रेश्वरायितनिजस्थितिरेक एव
देवीसुतो गणपतिः स्फुरदिन्दुकान्तिः ,
सम्यक्समुच्चलयतान्मन संविदब्धिम् ॥६॥

taddevatāvibhavabhāvimahāmmarīci
cakreśvarāyitanijasthitireka eva  |
devīsuto gaṇapatiḥ sphuradindukāntiḥ,
samyaksamucchalayatānmana saṃvidabdhim  ||6||

Que Gaṇeśa, o Senhor dos exércitos, aquele que habita em si mesmo,[21] filho da Deusa que é linda como a lua radiante, Senhor[22] da Roda dos Grande Raios da consciência sensorial, que são a glória do esplendor das Divindades, agite o oceano de minha consciência.[23]

रागारुणं ग्रन्थिबिलावकीर्णं
यो जालमातानवितानवृत्ति
कलोम्भितं बाह्यपथे चकार
स्तान्मे मच्चन्दविभुः प्रसन्नः ॥७॥

rāgāruṇaṃ granthibilāvakīrṇaṃ  |
yo jālamātānavitānavṛtti  |
kalombhitaṃ bāhyapathe cakāra  |
stānme sa macchandavibhuḥ prasannaḥ  ||7||

O todo penetrante Senhor Macchanda[24] lançou sua rede[25] ao longo do caminho, para fora da Luz. Essa rede de escravidão, cuja cor é vermelha, se espalhou pelo intenso desejo e apego,[26] pela limitação da ação[27] e pela escravidão constituída pelo pensamento equivocado[28] na terra das satisfações.[29] Que ele esteja ao meu favor.

त्रैयम्बकाभिहितसन्ततिताम्रपर्णी
सन्मोक्तिकप्रकरकान्तिविसेषभाजः
पूर्वे जयन्ति गुरवो गुरुशास्त्रसिन्धु
कल्लोलकेलिकलनामलकर्णधाराः ॥८॥

traiyambakābhihitasantatitāmraparṇī
sanmouktikaprakarakāntiviseṣabhājaḥ  |
pūrve jayanti guravo guruśāstrasindhu
kallolakelikalanāmalakarṇadhārāḥ  ||8||

Todos os antigos sábios e professores espirituais, grandes, sinceros e agraciados, descendentes da linhagem luminosa de Trayambaka,[30] timoneiros da barca que atravessa o oceano das escrituras, possam sempre estar presentes.

जयते गुरुरेक एव श्रीश्रीकण्ठो भुवि पथितः
तदपरमूर्तिर्भगवान् महेश्वरो भूतिराज्श्च ॥९॥

jayate gurureka eva śrīśrīkaṇṭho bhuvi pathitaḥ  |
tadaparamūrtirbhagavān maheśvaro bhūtirājśca  ||9||

Existe um mestre conhecido e sempre presente na terra; ele é famoso e triunfante. É o venerável Śrīkaṇṭha. Como ele, o Mestre Maheśvara, que é outra de suas muitas formas também está, assim como Bhūṭirā.

श्रीसोमानन्दबोधश्रीमदुत्पलविनिःसृताः
जयन्ति संविदामोदसन्दर्भा दिक्प्रसर्पिणः ॥१०॥

śrīsomānandabodhaśrīmadutpalaviniḥsṛtāḥ  |
jayanti saṃvidāmodasandarbhā dikprasarpiṇaḥ  ||10||

Que as composições,[31] perfumadas com a fragrância da consciência que se espalha por todas as direções, criadas por Utpaladeva,[32] quem encarnou a sabedoria do venerável Somānanda,[33] triunfem.

तदास्वादभरावेशबृण्हितां मतिषट्पदीम्
गुरोर्लक्ष्मणगुप्तस्य नादसंमोहिनीं नुमः ॥११॥

tadāsvādabharāveśabṛṅhitāṃ matiṣaṭpadīm  |
gurorlakṣmaṇaguptasya nādasaṃmohinīṃ numaḥ  ||11||

Prostramos-nos diante da mente divina do grande Mestre Lakṣmaṇagupta, que como o som de uma abelha, é a ressonância da consciência que hipnotiza todos os seres pelo movimento sempre em expansão em direção a manifestação,[34] cheio de sabor e absorção. [35]

यः पूर्णनन्दविश्रान्तसर्वशास्त्रार्थपारगः
श्रीचुखुलको दिश्यादिष्टं मे गुरुरुत्तमः ॥१२॥

yaḥ pūrṇanandaviśrāntasarvaśāstrārthapāragaḥ  |
sa śrīcukhulako diśyādiṣṭaṃ me gururuttamaḥ  ||12||

Que o venerável Śrī Cukhulaka, o melhor dos professores, tendo atravessado todo o oceano das escrituras, descanse em perfeita bem-aventurança e me instrua no que desejo saber.

जयताज्जगदुद्धृतिक्षमोसौ
भगवत्या सह शम्भुनाथ एकः
यदुदीरिरितशासनांशुभिर्मे
प्रकतोयं गहनोयं शास्त्रमार्गः ॥१३॥

jayatājjagaduddhṛtikṣamo’sau
bhagavatyā saha śambhunātha ekaḥ  |
yadudīriritaśāsanāṃśubhirme
prakato’yaṃ gahano’yaṃ śāstramārgaḥ  ||13||

Que o Senhor Śambhunātha seja vitorioso! Ele que, unido a sua consorte, tem o poder de elevar todo o universo. Ele que, pelos raios iluminados de suas instruções, clareou o caminho das escrituras para mim, pois embora profundas, são difíceis de entender.

सन्ति पद्धतयश्चित्राः स्त्रोतोभेदेषु भूयसा
अनुत्तरषदर्धार्थक्रमे त्वेकापि नेक्श्यते ॥१४॥

santi paddhatayaścitrāḥ strotobhedeṣu bhūyasā  |
anuttaraṣadardhārthakrame tvekāpi nekśyate  ||14||

Existem muitos caminhos incríveis pelas correntes de pensamento, mas nenhum caminho é apropriado para Anuttara Trika Artha.[36]

इत्य्हं बहुशः सद्भिः शिष्यसब्रहाचारिभिः
अर्थितो रचये स्पष्टां पूर्णार्थां प्रकृयामिमाम् ॥१५॥

ityhaṃ bahuśaḥ sadbhiḥ śiṣyasabrahācāribhiḥ  |
arthito racaye spaṣṭāṃ pūrṇārthāṃ prakṛyāmimām  ||15||

Existem inúmeros manuais litúrgicos[37] utilizados por várias tradições. Mas nenhum deles é apropriado para os rituais[38] da tradição Anuttaratrika. Portanto, repetidamente solicitado por meus sinceros discípulos e companheiros,[39] eu componho essa liturgia,[40] que é clara e completa.[41]

श्रीभत्तनाथचरणाब्जयुगात्तथा श्री
भत्तारिकाण्घृयुगलाद् गुरुसन्ततिर्या
बोधान्यपाशविषनुत्तदुपासनोत्थ
बोधोज्ज्वलोभिनवगुप्त इदं करोति ॥१६॥

śrībhattanāthacaraṇābjayugāttathā śrī
bhattārikāṅghṛyugalād gurusantatiryā  |
bodhānyapāśaviṣanuttadupāsanottha
bodhojjvalo’bhinavagupta idaṃ karoti  ||16||

Eu, Abhinavagupta, faço isso, flamejante com a consciência iluminada a partir da adoração dos pés de lótus do Senhor Bhaṭṭanātha[42] e de sua consorte, a Senhora Bhaṭṭārikā, juntamente com aqueles que os precederam na linhagem dos Mestres. Sua adoração é o antídoto para o veneno que agrilhoa todas as coisas e é contrário a consciência.

तदस्तीह यन्न श्रीमालिनीविजयोत्तरे
देवदेवेन निर्दिष्तं स्वशब्देनाथ लिण्गतः ॥१७॥

na tadastīha yanna śrīmālinīvijayottare  |
devadevena nirdiṣtaṃ svaśabdenātha liṅgataḥ  ||17||

Não existe nada aqui[43] que não seja ensinado pelo Deus[44] dos deuses no Mālinīvijayattara-tantra, seja direta ou indiretamente.

दशाष्टादशवस्वष्टभिन्नं यच्चासनं विभोः
तत्सारं त्रिकशास्त्रं हि तत्सारं मालिनीमतम् ॥१८॥

daśāṣṭādaśavasvaṣṭabhinnaṃ yacchāsanaṃ vibhoḥ  |
tatsāraṃ trikaśāstraṃ hi tatsāraṃ mālinīmatam  ||18||

Os ensinamentos do Senhor[45] estão divididos em grupos de dez, dezoito e sessenta e quatro Tantras. As escrituras Trika[46] são o princípio[47] de todas e destas, a Mālinīvijaya-tantra é a essência.

अतोत्रान्तर्गतं सर्वं संप्रदायोज्झितैर्बुधैः
अद्र्ष्टं प्रकटीकुर्मो गुरुनाथाज्न्अया वयम् ॥१९॥

Ato’trāntargataṃ sarvaṃ saṃpradāyojjhitairbudhaiḥ  |
adrṣṭaṃ prakaṭīkurmo gurunāthājñayā vayam  ||19||

Dessa forma, sob o comando do Mestre, explicarei tudo o que está contido aqui e que fora negligenciado nas outras escrituras, o conteúdo que não foi notado ou aprendido por aqueles que não pertencem a nenhuma linhagem.
अभिनवगुप्तस्य कृतिः सेयं यस्योदिता गुरुभिराख्या
त्रिनयनचरणसरोरुहचिन्तनलब्धप्रसिद्धिरिति ॥२०॥

abhinavaguptasya kṛitiḥ seyaṃ yasyoditā gurubhirākhyā  |
trinayanacaraṇasaroruhacintanalabdhaprasiddhiriti  ||20||

Este é o trabalho de Abhinavagupta, um homem que alcançou a perfeição suprema, meditando aos pés de lótus do Senhor de Três Olhos,[48] conforme ensinado por seu Mestre.

श्रीशम्भुनाथभास्करचरणनिपातप्रभापगतस्सञ्कोचम्
अभिनवगुप्तहृदम्बुजमेतद्विचिनुत महेशपूजनहेतोः॥२१॥

śrīśambhunāthabhāskaracaraṇanipātaprabhāpagatassaṅkocam  |
abhinavaguptahṛdambujametadvicinuta maheśapūjanahetoḥ ||21||

A fim de adorar o Senhor,[49] eis que o lótus do coração de Abhinavagupta, cuja ignorância foi erradicada pelos raios solares dos pés de Śambhunātha, floresceu.



[1] O verso-semente que serve como o selo de assinatura e invocação para as obras de Abhinavagupta na tradição Anuttara Trika Kula. Evocando a imagem divina de Śiva e Śakti, as camadas de significado poético nesse verso servem para refrescar e voltar a despertar tanto no falante quanto no ouvinte o estado de consciência de Deus a partir do qual o Tantrāloka foi composto. Os versos 1 a 21 são invocações, saudações aos mestres e gurus.
[2] Abhinava.
[3] Gupta.
[4] Kula.
[5] Amṛta.
[6] Anuttara.
[7] Visarga.
[8] Eu optei por fazer outra tradução deste verso inicial: Deixe meu coração pulsar no que é puro, cuja sede pela arte, é criativo pela união entre Śiva e Śakti. Śakti [mãe Vimalāmbā Devī] que é a criação, o cosmos e a divina mãe e Śiva [pai Bharitatanu] que, sendo o criador, expande, mantém e pulsa com Suas cinco bocas, que oferece a bem-aventurança interna e a expansão externa, cheio de bhāva, visarga e anuttara.
[9] A atividade sempre criativa da Consciência, Consciência Suprema espontânea, parā-śakti (unidade).
[10] Os três estados da mente ou três dentes/pontas do tridente são o sujeito, objeto e o meio de conhecimento com que o sujeito se conecta ao objeto.
[11] Aparā-śakti (diversidade, dualidade).
[12] A súbita emergência da luz.
[13] Paramaśiva, a Realidade Suprema. Esta palavra é um acróstico: bha é bharaṇa, que significa manutenção; ra é ravaṇa, que significa retração da manifestação, projeção; e va é vamana, que significa projeção do mundo.
[14] O tridente resplandecente da Consciência.
[15] Āṇava-mala (contração da vontade, iccha), māyīya-mala (contração do conhecimento, jñāna) e kārma-mala (contração da ação, kriyā).
[16] Satpakṣa e vipakṣa.
[17] Vibhu.
[18] Svātantrya
[19] Krama.
[20] Anuttara.
[21] Nijasthiti.
[22] Cakreśvara.
[23] Saṃvit, Consciência Universal, Consciência Suprema onde existe a fusão completa entre prakaśa (Śiva) e vimarśa (Śakti), jñāna-śakti, svātantrya-śakti.
[24] Literalmente, pescador.
[25] Māyā, o poder de fazer o mundo finito, o princípio que limita e estabelece condições dualistas sobre o Todo.
[26] Rāga, paixão, desejo, apego. Um dos kañcukas (véus) de māyā, por conta de haver limitação pelo desejo.
[27] Kalā, parte, agente limitador. É falsa noção de que há coisas que são possíveis de realizar e outras que são impossíveis.
[28] Granthi, pensamento modificado, alterado, equivocado.
[29] Bil, terra do desfrute, da satisfação dos prazeres, o mundo.
[30] Trayambaka ou Trayambakāditya é o filho do sábio Durvāsā. Nos tempos antigos, os mistérios das śaivāgamas repousavam nas bocas dos sábios. Na kaliyuga, as śaivāgamas tornaram-se raras. Por conta disso, o Senhor Mahādeva (Śiva), na forma de Śrīkaṇṭha, no intuito de abençoar a humanidade, inspirou Durvāsā a criar escrituras que não poderiam ser destruídas. Para tal propósito, Durvāsā projetou através de sua pura consciência o seu filho, Trayambaka. No último capítulo do Tantrāloka, Abhinavagupta diz que somente dois mestres (ou professores) estavam qualificados a ensinar o Śaivismo: Lakulīśa e Śrīkaṇṭha. Do primeiro originou-se a tradição Pāśupata. Śrīkaṇṭha projetou de si mesmo três seres perfeitos: Trayambaka, Āmardaka e Śrīnātha. Eles foram os responsáveis por propagar a doutrina śaiva da não-dualidade (abheda), dualidade (bheda) e a dualidade na não-dualidade (bhedābheda). Importante de se notar aqui, é que a filha de Trayambaka fundou uma quarta escola, conhecida como Ardhatryambaka, identificada como a tradição Kaula.
[31] Escritura, śāstra.
[32] Literalmente, o deus do lótus. Utpaladeva foi o autor da Īśvarapratyabhijñākārikā (As Estâncias do Reconhecimento de Deus). Ele inaugurou a escola Pratyabhijñā, que representa a expressão máxima do Śaivismo monista, sistematicamente elaborado em uma teologia racional de Śiva e uma filosofia de absoluta consciência com a qual Ele é identificado. Utpaladeva compreendeu que a experiência máxima da iluminação consiste de um profundo e irreversível reconhecimento de que a verdadeira natureza humana é Śiva em Si-mesmo. Ele diz: O homem cego pela ignorância (māyā) e confinado por suas ações (karma) é agrilhoado na roda de nascimentos e mortes, mas quando o conhecimento inspira o reconhecimento de sua divina soberania e poder (aiśvarya), ele, completamente consciente, torna-se uma alma liberada. De acordo com Utpaladeva, a alma é confinada porque se esqueceu de sua autêntica identidade e pode somente alcançar a liberação, o mais elevado objetivo da vida, pelo reconhecimento de sua verdadeira natureza universal.
[33] O professor de Utpaladeva foi Somānanda cuja Visão de Śiva (Śivadṛṣṭi) fora o primeiro trabalho da escola do Reconhecimento. Somānanda viveu no final do Séc. IX d.C. e foi, ele mesmo diz, o décimo nono na linha de sucessão de Trayambhaka. Trayambhaka, de acordo com Somānanda, foi o filho nascido da mente de Durvāsā, quem lhe ensinou os princípios do monismo Śaiva após tê-los aprendido direjtamente de Śrīkaṇṭha no Monte Kailāsa. Trayambhaka figura novamente em outro relato, desta vez em um que se refere a origem da tradição Trika. O relato é o mesmo da nota 30 acima: De acordo com esta história, Durvāsā foi instruído por Śrīkaṇṭha a espalhar a sabedoria Trika (ṣaḍardhakrama) a qual é a essência do segredo de todas as escrituras Śaivas. Durvāsā então gerou de sua mente tres yogīs perfeitos: Trayambhaka, Āmardaka e Śrīnātha, que, respectivamente, revelaram a doutrina Śaiva da não-dualidade, dualidade, e não-dualidade com dualidade. Destes, a linhagem (sampradāya) fundada por Trayambhaka que transmite a doutrina monista do Śaivismo não é outra senão a Trika. Acima este relato esteve conectado a fundação da tradição Kaula. Para sanar essa dúvida, Jayaratha, o mais proeminente comentador do Tantrāloka, mantém que a tradição Kaula originou-se da filha de Trayambhaka (como mencionado na nota 30) e foi identificada como kula-prakriyā. Aqui ele faz uma distinção com a linhagem tantra-prakriyā que, segundo ele, se refere aos ensinamentos não-dualistas oriundos de Trayambhaka, ou seja, a escola Trika.
[34] O primeiro movimento de Śiva e Śakti em direção a manifestação, quando Śakti preenche todo o universo com nādānta. Neste ponto ela é chamada de nāda. É a experiência do som sibilante da kuṇḍalinī-śakti na suṣumṇā-nāḍī. Também, sadāśiva-tattva no esquema dos 36 princípios de manifestação do universo.
[35] Āsvāda e āveśa.
[36] O triplo significado de que nada é superior a este caminho.
[37] Paddhati.
[38] Krama.
[39] Brahmacāris.
[40] Prakriyā.
[41] Os versos 13, 14 e 15 devem ser lidos e interpretados em conjunto.
[42] I.e., Śambhunāta.
[43] No Tantrāloka.
[44] Śiva Śaṅkara.
[45] Idem.
[46] Śāstra, escritura; Trika, sistema de filosofia da tríade Śiva, Śakti e Nara ou parā, parāpara e apara.
[47] Tattva, princípio, realidade, a essência de algo.
[48] Śiva.
[49] Maheśa.

0 comentários:

Postar um comentário

LEIA COM ATENÇÃO

O objetivo de se disponibilizar ao leitor a condição de comentários não tem a finalidade de se gerar um fórum de perguntas e respostas. Este blogger é mantido por um esforço pessoal, assim, muitas vezes é impossível a resposta imediata.

Todos os comentários são moderados. Atitudes ofensivas, contrárias aos princípios da Tradição Arcana, não serão publicadas.

Continue por favor...

  ©Template by Dicas Blogger.

TOPO