Worshop de Ajapa Dhāraṇā
A Oficina de
Meditação, sempre buscando oferecer programas de treinamento de qualidade
com a finalidade de aprimorar e aprofundar os conhecimentos de seus
participantes, como foi o caso do T. P. P. (Treinamento
Pré-Prāṇāyāma) da Oficina de Prāṇāyāma, um programa da Oficina de Meditação, inaugura uma série
de workshops na prática avançada de dhāraṇā (concentração). Nestes workshops serão apresentadas práticas de
concentração retiradas das escrituras do Yoga,
Tantra e Upaniṣads. Elas representam um nível avançado de ensinamentos
que até o presente não foram elucidados para o público em geral. Estas técnicas
estão agora sendo apresentadas pela urgente necessidade de praticantes sérios
que ansiavam por um fio condutor nas dimensões mais profundas da meditação. O
estudo sistemático e a prática destes ensinamentos irá ajudar os praticantes a
construírem uma ponte sobre o abismo entre as técnicas preliminares de
meditação oferecidas por muitas escolas e as técnicas avançadas que tradicionalmente
são ensinadas por transmissão direta de guru a discípulo.
Nestes primeiros workshops
apresentamos técnicas de ajapa-dhāraṇā de uma maneira muito
detalhada como parte integral do mantra-yoga
e que tiveram grande proeminência nas Upaniṣads. São dez práticas de ajapa-dhāraṇā descritas na Haṃsa-Upaniṣad distribuídas ao longo de
cinco workshops.
Existem dois níveis de ajapa-japa. No nível de pratyāhāra,
o método envolve o aspecto externo e grosseiro da atividade física, o processo
respiratório, para internalizar a consciência. O mantra é utilizado para impedir a auto-indução de flutuações
mentais. No nível de dhāraṇā, contudo, a prática é
gradualmente intensificada. Existe a concentração profunda no mantra, nos cakras e nas nāḍīs para que até mesmo a manifestação
causal, experiências inerentes aos sentidos e ao mundo exterior, gradativamente
se dissipem.
Estas dez práticas disponibilizadas nestes cinco
primeiros workshops representam um
nível avançado de ajapa-japa
classificadas no grupo de dhāraṇā. Deve ficar bem claro
que este grupo de ajapa-dhāraṇā que agora estamos
inaugurando somente será executado com perfeição após a prática proficiente do
grupo de ajapa-pratyāhāra estudado e
praticado nos encontros da Oficina de
Meditação. As práticas de ajapa-japa
aqui oferecidas foram organizadas de tal maneira para que a concentração na
respiração e no mantra nos caminhos
de suṣumṇā, iḍā e piṅgalā abram os cakras e proporcionem um estado de dhāraṇā espontâneo, sem esforço
para controlar ou estabilizar a mente.
Estes workshops
oferecem aos alunos da Oficina de
Meditação uma prática mais profunda e refinada, na esperança de que um
nível mais avançado na meditação possa ser alcançado.
Concentração é
o unidirecionamento da mente, a habilidade de manter a consciência focada em um
ponto, sem oscilar. O aperfeiçoamento da concentração induz a meditação. No estado de
concentração, a mente não está consciente do ambiente exterior ou das coisas
periféricas que cercam o objeto de concentração.
Por que a concentração profunda e
intensa é tão poderosa? Isso pode ser melhor ilustrado pela comparação da mente
de uma pessoa normal a uma lamparina. As luzes da lamparina se expandem para
todas as direções; a energia que emana do centro da lamparina, do filamento
interior, é dissipada, propagando-se em todas as direções. Se você ficar a
cinco passos da lamparina poderá ver sua luz, mas não sentirá o seu calor,
mesmo que haja um calor intenso no centro da lamparina, no filamento. Da mesma
maneira, a mente de uma pessoa comum possui um vasto potencial latente e um
incomensurável poder em sua fonte, seu centro, mas este potencial e poder são
dissipados em todas as direções. A mente pensa inúmeras coisas continuamente,
uma após a outra, sem vivenciar ou se aprofundar em nada do que pensa. Quer
dizer, o poder está presente em todas as pessoas, mas ele não é canalizado,
direcionado ou mesmo utilizado.
A ciência produziu o raio laser, algo que na época foi
largamente utilizado como entretenimento pela indústria cinematográfica. Para
se produzir o laser é necessário que todos os raios de luz estejam alinhados a
partir de uma única fonte, de maneira que eles em uníssono vibrem em harmonia
na mesma freqüência. A fonte original de onde sai à luz não precisa ser grande,
pelo contrário, ela pode ser bem menor que o filamento da lamparina citada
acima. Mas se você ficar a cinco passos da fonte do raio laser seu feixe
direcional instantaneamente pode abrir um buraco através de seu corpo. Este é o poder da luz concentrada. O
pensamento concentrado, embora não abra um buraco em seu corpo, tem um vasto
poder. Uma mente concentrada age como um irresistível instrumento de ação. Ela conduz a eficiência em todos os aspectos
da vida, é um dínamo que gera vitalidade e entusiasmo em qualquer direção que
se projete. Uma mente concentrada é um instrumento de recepção sensitiva,
quer dizer, ela se torna receptiva as vibrações elevadas e possui a percepção
aguçada. Neste caminho, ela se torna o mecanismo receptor da consciência
cósmica, bem-aventurança e conhecimento superior. Normalmente, tudo isso está
muito além de uma mente comum, pois esta é constantemente perturbada e
distraída pelo contínuo murmúrio interior dos pensamentos. Portanto, a concentração é a chave que abre as portas
para os estados elevados de consciência.
A qualidade da
mente
Uma mente concentrada é uma mente poderosa e uma mente
dissipada é uma mente fraca. Para que você possa desenvolver o poder da mente,
necessita primeiro desenvolver a concentração mental. Uma mente que se dissipa
facilmente não tem poder. Se seus pensamentos estão dispersivos, eles podem ser
unidirecionados através de específicas práticas de concentração. Dessa maneira
sua mente se tornará tão poderosa que você poderá até influenciar a mente de
outras pessoas e mudar seu próprio caráter, melhorar sua saúde e transformar
toda sua vida. Se você possui alguma desordem estomacal, mental ou
respiratória, pode modificar seu quadro clínico apenas pelo poder de sua
vontade. Como pode desenvolver o poder de sua vontade? O segredo é concentrar a mente em um ponto e ali permanecer sem oscilar.
Uma mente forte pode fazer isso.
O que queremos dizer por mente forte? Uma mente forte é aquela que pode tomar suas próprias
decisões. Em contraste, uma mente fraca é aquela que decide alguma coisa, mas
faz outra. Você diz: a partir de amanhã
vou fazer determinada coisa. Mas quando o amanhã chega, você se esquece
completamente da decisão. Você continua sempre sendo a mesma pessoa porque sua
mente continua sempre se dissipando. Portanto, o poder de transformação da vida está conectado ao poder de
concentração da mente. Todos os grandes homens que forjaram seus nomes nos
livros da história, sejam eles artistas, escritores, músicos, políticos,
estadistas, líderes militares, cientistas ou santos, conquistaram sua posição
pela qualidade de suas mentes. Eles não se tornaram grandes pelo capricho da
natureza ou por um golpe do destino. Não, eles se tornaram grandes pela
qualidade de suas mentes. Eles tinham uma mente forte e concentrada e,
portanto, uma mente talentosa.
Se você quer fazer algo ou se tornar alguém na vida, a
qualidade de sua mente tem de ser refinada. Se você possui uma baixa qualidade mental,
então seu desempenho em todas as esferas da vida será parco, estéril e débil.
Se você possui alta qualidade mental, então seu desempenho será
correspondentemente elevado em todas as esferas da vida. Para desenvolver uma
alta qualidade mental, terá de analisar a si mesmo e seus objetivos, terá de se
organizar e dedicar algum tempo a prática de concentração pela manhã e a noite.
Evite
confrontos mentais
Você pode se concentrar em qualquer grande santo, luz,
som, cor, forma, pensamento ou qualquer coisa que deseje, mas uma coisa deve
estar bem clara: para iniciar sua prática de concentração não é necessário
selecionar um símbolo religioso. Às vezes um pensamento que produza grande
impressão na sua consciência pode ser usado de forma mais eficaz. Não existe
razão para lutar contra a mente. Durante a prática de concentração você pode
estar tentando se concentrar em um símbolo religioso, mas sua mente pode não
concordar por conta de seus condicionamentos. Quando você tenta se concentrar
em algo contrário aos seus condicionamentos mentais, a mente drena sua
concentração do objeto escolhido. Contudo, quando você se concentra em coisas
ordinárias que não se chocam com seus condicionamentos, não existe distração.
Quando você tenta se concentrar em um símbolo errado,
a distração ocorre porque se inicia uma contenda mental. Portanto, é importante
que você compreenda que quando se inicia a prática de concentração, deve haver
o mínimo de confronto com os condicionamentos da mente. Não há porque lutar
contra a própria mente. Quem está lutando com quem? Não existem duas mentes. A
consciência é uma, mas por conta da diversidade existem vários vṛttis, quer dizer, padrões
mentais. Quando você confronta a si mesmo está criando uma querela entre seus
próprios vṛttis, e quando esse confronto
se torna intenso, o que ocorre é um ataque esquizofrênico. A maioria dos
pacientes mentais são vítimas de suas próprias mentes.
Portanto, se você não está conseguindo se concentrar
em nenhum dos símbolos sugeridos acima, então escolha o seu próprio símbolo. O importante é que o símbolo escolhido deve
ter uma força de atração que sua mente automaticamente é atraída para ele de
forma que se integre completamente nele. Quando a prática caminha nessa
direção, então a concentração é facilmente conquistada.
A habilidade
de se concentrar
A concentração é explicada na Kaṭha Upaniṣad (2:3:11) por Yama, o Senhor da Morte, a Nachiketas, um jovem buscador:
O firme
controle dos sentidos e da mente é o yoga da concentração. Esteja atento a esse
yoga pois ele é difícil de se conquistar e fácil de se perder.
A palavra concentração
significa unidirecionamento. Assim
como nós precisamos de um lápis afiado para escrever ou uma faca afiada para
cortar, a mente precisa estar afiada através das práticas de concentração. Nós
não podemos cortar com uma faca cega ou escrever com um lápis sem ponta, pois a
pressão aplicada se espalha por uma área bem maior. Ela não está concentrada. A
importância da mente concentrada no dia-a-dia é vastamente reconhecida, mas a
mente ordinária não funciona de maneira concentrada. Ela se dissipa em várias
direções e tenta abranger muitos pontos. Portanto, não estamos capacitados a
utilizar sequer a mínima fração de nosso potencial, de nosso poder mental.
Nós conhecemos muitas coisas na vida. Sabemos muito
sobre nosso trabalho, nossos familiares, a sociedade e o mundo que nos cerca,
história, ciência e política, mas não sabemos como controlar e dirigir a mente.
O poder da concentração não foi desenvolvido na maioria de nós. Em nossa
infância e nos primórdios de nosso crescimento não passamos por um treinamento
que pudesse nos auxiliar a controlar e dirigir a mente. Por conta disso, na
medida em que crescemos nossa mente se torna mais dissipada enquanto acumula
mais tensões, angústias e aborrecimentos. Isso resulta em uma incrível perda de
acuidade mental, decisões equivocadas, conduta ineficaz, memória fraca e
finalmente a senilidade.
Podemos ser mestres da tecnologia e de tudo o que
concerne ao mundo exterior, mas não somos mestres de nossa mente. Às vezes a
tecnologia que nos dá controle sobre certas funções mentais nos ilude
completamente. Ter controle sobre uma máquina significa que nós podemos
ligá-la, significa que podemos ir mais rápido, diminuir a velocidade e até
mesmo parar quando for necessário. O mesmo é requerido de uma mente
disciplinada. Uma mente disciplinada é aquela que pensa somente quando você
quer e sobre o que você decide. Se você quer que ela pense rápido, devagar ou
pare de pensar, ela irá fazê-lo imediatamente. Os pensamentos que entram em uma
mente disciplinada são rapidamente reconhecidos e direcionados.
Se nós examinarmos a vida dos yogīs, sadhus, saṃnyāsins, santos e místicos,
notaremos que eles têm algo em comum. Eles vivem em um estado de concentração
intensa, unidirecionada, dedicando-se totalmente ao ideal ou propósito que
escolheram como último objetivo de conquista espiritual. Eles ganham controle
sobre si mesmos e sobre suas mentes pela prática regular e estável. Através do
poder de concentração que possuem, eles gradualmente integram suas mentes a
oração ou meditação até que sejam capazes de conquistar um estado de perfeito
controle mental. Usualmente, quando conhecemos uma pessoas assim, a primeira
impressão é de uma profunda paz interior, estabilidade e auto-controle.
A habilidade de se concentrar é a raiz de todas as
boas qualidades no homem e para ser desenvolvida ela requer esforço extremo.
Desenvolver uma mente concentrada é mais difícil do que conquistar um bom
salário ou um bom emprego. Uma pessoa comum não nasce com a habilidade de se
concentrar, portanto é necessário uma mudança na natureza pessoal a fim de se
criar algo que antes não existia. É muito diferente do que estudar conceitos
filosóficos de livros ou se submeter a várias palestras. A concentração é algo
que deve ser praticada e descoberta pessoalmente, dessa maneira os frutos irão
aparecer.
O essencial
para se desenvolver a concentração é a constância na prática. Contudo, antes de
iniciarmos uma prática de concentração, precisamos ter alguma idéia sobre a
larga extensão que este estado mental de desenvolvimento cobre. As práticas de
concentração e meditação foram codificadas nos textos do Yoga, nos Tantras e nas Upaniṣads. Portanto, o assunto
deveria ser estudado e pesquisado nessas fontes para um melhor desenvolvimento.
A concentração não é uma prática
superficial. Ela envolve um mergulho profundo nas dimensões internas da mente e
da consciência. Para isso, precisamos de três coisas: i. método correto;
ii. orientação correta; e iii. entendimento correto.
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