terça-feira, 4 de novembro de 2008

Anubhava-nivedana-stotra de Abhinavagupta

– Canto de louvor dedicado a transmitir a experiência direta do Absoluto –

Tradução de João Carlos Barbosa Gonçalves

[Tradução livre a partir da versão em língua inglesa de Paul E. Muller-Ortega (On the Seal of Śambu: A Poem by Abhinavagupta), em Tantra in Practice, editado por David. G. White, Princeton University Press, 2000.]

1. O yogī tântrico realizado – cuja mente e respiração foram dissolvidos, por meio da imersão completa, no objeto mais profundo de percepção – é o yogī que permanece com o olhar aquietado, ainda que aberto, com as pupilas imóveis. Mesmo que ele ainda pareça observar o mundo externo, em realidade, seu olhar não depende dessa aparente exterioridade. Este é o selo de Śambhu - a Śambhavī Mudrā, o selo śaiva da consciência unitária, a realização do gesto derradeiro ou postura do despertar de Śiva. Esse estado de visão mística, autêntica e derradeira, ó Mestre divino, é produzido somente por causa de tua graça, potente e radiante. Essa é a esfera de Śambhu, o generoso Senhor, o verdadeiro estado de realidade, que está além da experiência de plenitude das condições da consciência ordinária, e além dos estados extraordinários de vazio.

2. Esse yogī permanece com os olhos meio abertos e mesmo com a mente imóvel e serena, sua visão está firmemente fixada no portal secreto que se abre para a percepção sutil descoberta pelo yogī, na ponta do nariz. O Sol e a Lua foram dissolvidos no imenso espaço interior da consciência, que vibra naturalmente com a tripla pulsação. Aqui, o yogī atinge a realidade única, o domínio cuja natureza é essencialmente a pura luz da consciência, totalmente desprovida de externalidade, o espírito supremo, o princípio real, o domínio do superior, a essência suprema. O que mais há para ser dito a respeito disso?

3. Nesse estágio, quaisquer palavras que venham a surgir da boca de tal yogī são mantras de ordem transcendental. O conjunto formado pelo corpo – onde as experiências de prazer e dor estão constantemente se manifestando – é a verdadeira conformação física da mudrā, o selo que revela a vivência do Absoluto. O som espontâneo e natural da respiração é, em verdade, o Yoga mais elevado e extraordinário. Depois de experimentar essa luz incomparável, a glória esplendorosa da śakti, o que é que não pode ser revelado para mim?

4. O mantra que é revelado nesse estado não possui um arranjo de sílabas ou fonemas que possa ser analisado. Quando a totalidade das atividades corpóreas é suspensa ou quando cessam todas as técnicas corporais, então a mudrā, o selo do Absoluto surge e releva a si mesmo. Assim que o fluxo da respiração pára ou quando termina a prática da técnica da respiração, o Yoga aparece. No grandioso festival da luz mística que conduz à percepção de teu esplendor, o que é que não se revela como absolutamente extraordinário para aquele que foi iluminado?

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