Eu pratico Yoga
Por Fernando Liguori
Todas as vezes que comento com alguém que sou praticante de Yoga, quase sempre a primeira pergunta é: qual o tipo de yoga você pratica? Eu respondo enfaticamente: Pratico Yoga!
O Yoga que pratico é aquele destituído de rótulos, puro e simples, conectado a espíritualidade, da maneira como concebido em seus primórdios.
Costumo dizer sempre para alunos e amigos que o Yoga é tão antigo quanto o homem. Na verdade, quando o primeiro asceta – que nós poderíamos chamar de primeiro yogī – pensou acerca de si mesmo como um elemento inserido na Natureza mas ao mesmo tempo um reflexo do cosmos, já estava praticando Yoga. Não este Yoga como concebido no Ocidente; me refiro a um Yoga mais profundo, mais espiritual.
Infelizmente, o conceito de Yoga no Ocidente – sem querer generalizar – esta irremediavelmente comprometido. O haṭha-yoga, que em termos gerais poderíamos chamar de Yoga da Força, está longe de estar conectado ao que conhecemos como haṭha-vidyā, i.e. a ciência do haṭha-yoga. Quando me refiro ao termo ciência, quero também dizer arte e filosofia, pois o haṭha-yoga, como codificado em seus primórdios, é essencialmente espiritual em todo seu escopo, o que envolve todas as áreas do conhecimento humano.
Em tempo algum ouso me auto-denominar yogī. Sou apenas praticante de Yoga e quem sabe nas próximas encarnações eu possa vir como yogī. Mas o senso crítico nos diz que āsanistas – ou posturistas – também não o são. O Yoga está muito além disso, pois aprendi que a prática do Yoga deve ser norteada pela responsabilidade e espiritualidade, com atenção aos valores morais universais e espirituais promulgados pela Tradição do Yoga.
O conceito de Yoga, segundo aquilo que aprendi, vai muito além da prática de āsana, prāṇāyāma e meditção; ao contrário, envolve todo um universo que pelo visto, até o memento, está distânte do olhar de muitos praticantes de Yoga, o que é uma incongruência, já que a prática do Yoga envolve, antes de tudo, um estado de atentividade plena.
É necessário, fundamental, uma mudança de paradigma já! Os horizontes devem se ampliar, principalmente para os professores de Yoga. Quando a prática está alinhada, i.e. quando o estudo está afinado, como costumo dizer, o Yoga demonstra a seus adeptos como a sua prática é ampla. Além de envolver o universo interno de cada um, envolve o universo externo: me refiro principalmente ao planeta em que vivemos.
O homem representa no exterior aquilo que ele é em seu interior. Assim, via de regra, uma mudança interna leva a uma mudança externa. Portanto, quando o praticante de Yoga se concentra no ideal de śauca, pureza em todos os sentidos, interna e externa, é impossível que não se incomode com questões ambientais que envolvem a poluição do meio ambiente. Da mesma maneira, é impossível que não faça pelo menos a sua parte para deter a poluição em sua cidade.
Estabelecido em asteya, o não-roubar, ele não apenas se concentra no ideal de refrear seus impulsos em tomar aquilo que não é seu por direito, mas também se atém ao fato de consumir somente aquilo que é necessário para sua sobrevivência, deixando de lado o consumismo, evitando o desperdício etc.
Isso significa que praticar Yoga é ser consciente! Portanto, eu pratico Yoga.
Muito se fala acerca de vários tipos de Yoga: haṭha, karma, bhakti, jñāna etc. Mas assim como um Palácio têm muitas portas, o Yoga é um grande Templo de muitos portais. Patañjali chamou este Templo de kriyā-yoga, o Yoga da Atividade Meritória, pois envolve no escopo total de sua prática estes vários portais que levam o praticante do ego ao Ser.
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