Gṛhastha Bramacarya & o Despertar da Śakti: A Energia Primordial
Śakti
Vidyā • Discurso 1
Por Anuttara
& Māḷikā
NOS
tempos recentes podemos observar uma massiva necessidade de cura e equilíbrio
espiritual por parte das mulheres. Os movimentos nessa área são inúmeros e
podemos defini-los por sua iniciativa: O
Despertar da Śakti. Quando nos referimos à Śakti queremos dizer a energia primordial que é um aspecto da força
de vida universal (prāṇa) que
anima os seres humanos. O Tantra
denomina essa energia primordial de kuṇḍalinī. Essa força de vida universal do qual a kuṇḍalinī é uma expressão individual no ser humano é
conhecida como mahā-prāṇa, a
energia cósmica, universal e toda abrangente da qual recebemos conteúdo
energético através do processo respiratório.1 Os śāstras (escrituras sagradas) da
tradição atestam que toda experiência cósmica, da criação a dissolução, está
incorporada nas voltas da kuṇḍalinī que jaz adormecida no mūlādhāra-cakra, o primeiro centro energético da constituição
psíquica. Portanto, ela também é conhecida como ātma-śakti ou energia
universal. Em todos os seres, a consciência cósmica ou energia universal é
primeiro convertida em prāṇa e, como
a kuṇḍalinī é o reservatório deste enorme caudal de energia,
ela é conhecida também como prāṇa-śakti. É o despertar dessa energia primordial que em essência é o cerne
do crescente movimento em todas as partes do mundo que reconhecemos como O Despertar da Śakti.2
O
objetivo de todas as práticas espirituais tânticas
e yogīs é a realização deste poder
cósmico ou kuṇḍalinī-śakti. O processo de despertar essa força ou prāṇa é descrito nos śāstras como o vôo do pássaro
que ascende desde a terra até o céu, trilhando o caminho dourado. A terra é
o mūlādhāra-cakra, o céu é o ājñā-cakra, o pássaro é mahā-prāṇa e o caminho dourado é a suṣumṇā-nāḍī no centro da coluna. Pela manipulação, armazenamento e expansão do prāṇa no corpo é possível despertar a adormecida prāṇa-śakti. Este
processo é conhecido como Śakti-Vidyā,
i.e. o Conhecimento da Śakti.3
Mas como
realizar este conhecimento nos dias de Hoje? Por onde começar? É simples,
comece de casa. Nos dias de hoje em que tudo passa muito rápido, a vida
apresenta um menu aos nossos sentidos
cheios de opções para que continuemos acorrentados as circunstâncias externas,
nos esquecendo completamente de nós mesmos. Portanto, é em casa, com os
familiares, que este conhecimento pode começar a ser cultivado. A adoção de um
estilo de vida saudável, regada a práticas espirituais da tradição do Tantra, Yoga e Āyurveda podem
auxiliá-la neste despertar. Mas antes de abordarmos essas práticas no contexto
de gṛhastha-bramacarya, termo que pode ser definido como a aplicação natural da sexualidade com fins
espirituais na relação matrimonial, vamos antes definir o conceito de energia primordial e sua natureza na
constituição humana.
Energia Primordial
Como
vimos acima, a energia primordial no ser humano se manifesta como a kuṇḍalinī-śakti que, em sua expressão mais refinada,
representa a conquista de um estado interior de bem-aventurança e a realização
máxima de todos os potenciais humanos. Contudo, em sua manifestação mais densa
ou grosseira ela encontra expressão na energia sexual. Essa energia é um poder
extraordinário que todo ser humano possui e que muitas vezes se manifesta na
forma de magnetismo ou carisma. Ela é a força motriz de todas as emoções e
atividades humanas.
Essa
energia é polarizada. Ela pode ser atraída ou repelida; pode ser positiva ou
negativa. Como é a expressão de toda existência, pode ser percebida através da
atividade elétrica, por exemplo, com seus terminais positivo e negativo. Este é
o padrão existencial, o jogo espontâneo de Śiva
e Śakti, consciência e energia. A
criação da vida, energia e matéria não seria possível sem que estas forças
positivas e negativas se unissem. A contraparte humana e evolutiva das
representações cósmicas de Śiva e Śakti se expressam no homem e na mulher
em vários níveis de relação, sociais ou pessoais. Portanto, através da interação física entre homem e
mulher, marido e esposa, essa energia primordial na forma de kuṇḍalinī-śakti pode ser realizada. Esse é o nosso tema.
Gṛhastha Bramacarya
Antes de
entrarmos no conceito de gṛhastha-bramacarya, vamos definir os termos.
Os yogīs e ṛṣīs da antiga Índia delinearam estágios para vida
humana. Estes estágios são conhecidos como āśramas
e sua função é facilitar o desenvolvimento equilibrado da consciência
espiritual desde o nascimento até a morte. Assim como o dia é dividido em
manhã, tarde, anoitecer e noite, da mesma maneira a vida foi dividida em quatro
etapas, considerando os requerimentos e a natureza de cada estágio.4
Gṛhastha-āśrama é o segundo estágio da vida humana conforme esta formulação.
Naturalmente, ele se inicia aos vinte e cinco anos, quando o então brahmacārin (estudante) deixa a casa de
seu guru (gurukul) e assume uma vida
matrimonial, um trabalho que possa sustentar sua família, bem como a expressão
de suas paixões, desejos e ambições. Nesse caminho, é esperado que o gṛhastha esgote seu karma
individual, construindo assim um caminho seguro e equilibrado que lhe leve até
a próxima etapa. Este é o conceito tradicional.
Gṛhastha
literalmente significa chefe de família
ou dona de casa. Para o Tantra, não apenas os renunciantes podem
atingir a liberação (mokṣa). Os sādhakas (praticantes) que possuem
família, trabalho e se envolvem com atividades externas também podem atingir a
liberação, e até mais rápido, pois o envolvimento com a vida e seus
acontecimentos fornece a matéria prima pela qual eles podem ascender
espiritualmente. Portanto, não é renunciando ao mundo que o adepto tântrico evolui, mas ao contrário, é
pelo mundo e através do mundo que seu sādhanā
(prática espiritual) é executado.5
Nesse
contexto, o gṛhastha é
aquele chefe de família ou dona de casa que, comprometido com seu crescimento
interior, utiliza o matrimônio como sādhanā
pessoal, em todos os sentidos, da interação pessoal a práticas espirituais.
Isso ficará mais claro adiante.
Brahmacarya é uma palavra que, de tradição em tradição,
vem ganhando significados distintos. Ela tem recebido muitas traduções, mas na
maioria dos casos, é sempre associada ao celibato ou a contenção sexual. Há
diferenças aqui. Contudo, uma tradução que transmite a essência da palavra é aquele que se encontra estabelecido na
consciência de Brahma, a consciência cósmica. Em um escrito anterior, nós
dissemos que:
Literalmente,
a palavra significa conduta bramânica.
O termo Brahma significa aqui espiritual, sagrado ou divino. Assim,
brahmacarya passou indicar a
disciplina espiritual adequada a um brâmane, membro da classe sacerdotal, que
procurava simular a pureza da Realidade Última – neste caso, Brahma. Ao termo também é designado
àquele período da vida destinado ao estudo dos Vedas. O estudante, então um brahmacārin, é
orientado pelo ideal da abstinência total da sensualidade e, a ela inclusa, naturalmente, a sexualidade. Como Brahma transcende todas as distinções de
gênero, o estudante é estimulado a praticar brahmacarya,
a conduta da Realidade Última, de
modo a preservar e cultivar o grande poder da energia sexual. Portanto, no
hinduísmo, o termo brahmacarya
designa não apenas o período de estudo e discipulado em geral, mas também a
prática da castidade moderada entre os chefes de família, a total abstinência
sexual dos ascetas e a sexualidade orientada de certas tradições tântricas.6
Portanto,
a palavra brahmacarya, como
compreendida no contexto deste estudo, é
o direcionamento apropriado da energia primordial para evolução espiritual.
Existem várias formas de se praticar brahmacarya.
Seguindo o objetivo proposto, vamos tratar de gṛhastha-bramacarya, a expressão
natural da sexualidade orientada para fins espirituais na união matrimonial.
O Yoga – mais apropriadamente o haṭha-yoga com suas inúmeras ferramentas de prática –
influência a produção dos hormônios no corpo através de sua atuação nas
glândulas e sub-glândulas.7 Por exemplo, o processo biológico do
sistema reprodutor pode ser completamente interrompido. Neste caminho, a
agitação transmitida através do sistema nervoso para mente via shukra-nāḍī e vajrā-nāḍī é completamente bloqueada. Mas no Yoga o processo não se dá pela
supressão, mas pela sublimação. O Yoga
insiste na necessidade da sublimação sexual através do relacionamento conjugal
para eliminação saudável dos saṃskāras (resíduos
mnemônicos de ações pretéritas desta ou de vidas passadas) como ferramenta no processo
de evolução.
De
acordo com a filosofia do Tantra, o
matrimônio é uma expressão da energia primordial que manifesta o universo e nos
impulsiona em direção à iluminação espiritual. Nossa evolução espiritual depende da remoção dos bloqueios que impedem
o fluxo livre desta energia. Em certos estágios, isso envolve o desbloqueio
de inibições, complexos e frustrações através da satisfação sexual matrimonial.
A prática de gṛhastha-bramacarya é um veículo para desobstrução da energia
bloqueada. Isso ocorre durante a união
mística, o dharma esquecido da sexualidade, i.e. a comunhão sexual como um sādhanā no matrimônio. Durante a união mística, o casal executa
determinados kriyās do haṭha-yoga para retenção do orgasmo. O imenso manancial de energia
é conservado pela retenção do bindu
(as secreções corporais secretadas no momento do clímax). Esta energia é então
direcionada do mūlādhāra-cakra para
os centros superiores por meio da vajrolī-mudrā,
sahajolī-mudrā, uḍḍīyāna-bandha e mūla-bandha, causando uma explosão nos saṃskāras, o que torna possível a
expansão da consciência.
O
conceito de retenção do bindu e o
prolongamento do clímax (rajas)8
é um ponto central para o correto entendimento de gṛhastha-brahmacarya. Segundo a Haṭhapradīpikā (III: 99-103):
पुंसो बिन्दुं समाकुञ्च्य सम्यगभ्यास पाटवात्।
यदि नारी रजो रक्षेद्वज्रोल्या सापि योगिनी॥ ९९॥
तस्याः किञ्चिद्रजो नाशं न गच्चति न संशयः।
तस्याः शरीरे नादश्च बिन्दुतामेव गच्चति॥ १००॥
स बिन्दुस्तद्रजश्चैव एकीभूय स्वदेहगौ।
वज्रोल्य् अभ्यास योगेन सर्व सिद्धिं प्रयच्चतः॥ १०१॥
रक्षेदाकुञ्चनादूर्ध्वं या रजः सा हि योगिनी।
अतीतानागतं वेत्ति खेचरी च भवेद्ध्रुवम्॥ १०२॥
देह सिद्धिं च लभते वज्रोल्य् अभ्यास योगतः।
अयं पुण्य करो योगो भोगे भुक्तेपि मुक्तिदः॥ १०३॥
Se
a mulher pratica vajrolī
e salva seu rajas e o bindu do
homem pela contração, ela é uma yoginī.
Sem dúvida, se nem um pouco de rajas é
perdido através da contenção, o nāda e
o bindu no corpo se tornam um. O bindu e o rajas tornam-se
um em seu próprio corpo pela pratica do yoga da
vajrolī, trazendo assim todas as siddhis. Ela é verdadeiramente uma yoginī se conserva o seu rajas ao contraí-lo e elevá-lo. Ela conhece o passado, presente e futuro e se torna
firme em khecarī. Pelo yoga da prática de vajrolī,
as siddhis corpóreas frutificam. Este yoga virtuoso traz mukti juntamente
com bhoga.
A
prática de gṛhastha-brahmacarya, de acordo com o Tantra e Āyurveda, possui
três propósitos: procriação, prazer ou samādhi
(absorção cognitiva). Os sādhakas
casados, que constituíram família, experimentam sua atividade sexual sem
inibição, conflito ou culpa como parte de seu sādhanā e ādarśa
(ideologia focada na liberação). Na atividade sexual trivial, o clímax da
experiência é perdido antes que o parceiro se aprofunde nele, e vice-versa. Mas
quando a união mística é orientada
para propósitos espirituais, o clímax é prolongado, não apenas para um ganho
excedente em prazer, mas fundamentalmente para que a energia produzida desperte
os centros elevados de consciência que se encontram adormecidos para que possam funcionar continuamente durante todo o
dia. A Āyurveda cita um velho ditado que diz que quando o sexo é realizado
sem a intenção apropriada e em desacordo com o amor humano, este desaba como uma peça seca, sem seiva,
carcomida e decadente de madeira.
Portanto,
a orientação sexual fundamental na prática de gṛhastha-brahmacarya para os sādhakas
é aquela cujo foco é o samādhi, e não
a mera união física. Ao contrário, o propósito é claro: o despertar da suṣumṇā-nāḍī, a ascensão da kuṇḍalinī-śakti desde o mūlādhāra-cakra aos
centros superiores e a destruição total dos saṃskāras incrustados nos recessos
mais profundos da mente inconsciente.9
A união mística, dança primordial ou maithuna,
como é conhecida na tradição tântrica, requer uma preparação estrita por parte
do casal. Por exemplo, certas práticas do haṭha-yoga têm de ser dominadas. Inicialmente, as mulheres desenvolvem
controle sobre os cakras inferiores
pela proficiência em paścimottānāsana,
śalabhāsana, vajrāsana, supta-vajrāsana
e siddha-yoni-āsana. Śīrṣāsana é muito importante na regulação dos hormônios
reprodutores e sua interação com o cérebro. Mūla-bandha,
uḍḍīyāna-bandha, śāmbhavī-mudrā,
sahajolī-mudrā e kumbhaka (retenção do alento) devem se tornar atividades
espontâneas a serem executadas sem dificuldade durante a interação sexual. Devemos
nos cuidar através de śauca, limpeza interna e externa. Limpar
periodicamente o corpo pode criar um estado de bem-estar que aumenta a atração
e o encanto físico. A Āyurveda indica
cinco tipos de métodos de limpeza interior a serem seguidos duas vezes ao ano
para a purificação do corpo. A mais importante é o enema, que remove a rigidez do corpo, deixando a pele suave e
brilhante e estimula a atividade.
Em um
nível emocional, o casal deve estar desprovido de dependência e possessividade.
Eles devem transcender o típico comportamento estereotipado de masculino e
feminino ao ponto em que ambos estejam preparados para iluminação espiritual
pela aceitação do papel da mulher como guru.
Pela
iniciativa da esposa e sob seu comando, a união
mística ocorre. Ela executa todos os preparativos e marca com seu elixir rubeus o bhrūmadhya de seu marido, lhe indicando onde deve meditar. Em um
relacionamento normal, o homem assume uma postura dominadora e agressiva
enquanto a mulher se submete a seus caprichos. Mas na execução do maithuna a mulher assume o comando e o
homem o veículo de sua expressão divina. A mulher deve ser capaz de estimular
seu marido, ajudando-o a conservar o bindu.10
Se o marido perde o controle, é porque a esposa não conduziu adequadamente o
ritual.
No Tantra é dito que Śiva sem Śakti é śava (cadáver). Śakti é a sacerdotisa, a kuṇḍalinī
exteriorizada. No nascimento do cosmos, Śakti
movimentava a criação enquanto Śiva
testemunhava. Portanto, assim como no Tantra
a Śakti é a energia dinâmica e Śiva a energia estática, no casamento
onde há uma relação gṛhastha-brahmacarya, a esposa é a guru e o marido o discípulo.
Nessa relação, existe iṣtā, a meta
focada no guru, a contra-parte externa da kuṇḍalinī, a
energia primordial encarnada, cuja luz ilumina o discípulo e cujo toque (dīkṣā) e benção (darśan)
despertam a Śakti de sua morada no mūlādhāra-cakra.
Notas:
1. Paramahaṃsa Satyananda Saraswati, fundador da Bihar School of Yoga diz: Você não pode conceber o prāṇa macroscópico; eu não posso falar sobre ele e
você não estaria apto para compreendê-lo, mesmo que eu estivesse. Citado por Swami Niranjanananda Saraswati em
seu livro Prana Pranayama Prana Vidya,
Yoga Publications Trust, 2005.
2. Esses movimentos de
reforma espiritual no Ocidente receberam grande influência da filosofia e
prática contida nas tradições Tântricas
e Śāktas. Isso é demonstrado, por
exemplo, nas tradições matriarcais de bruxas e feiticeiras desde a Idade Média
até hoje com os movimentos de bruxaria e magia moderna como os rituais sexuais
de Aleister Crowley, o movimento de Gerard Gardner (ex-aluno de Crowley) e as
tradições Wicca que se proliferam cada vez mais, cujo foco de adoração é à
Deusa em seus inúmeros aspectos.
3. Śakti-Vidyā, conforme apresentado nesse texto, enfatiza o despertar
da energia primordial (kuṇḍalinī-śakti ou prāṇa-śakti), a expressão máxima de todas as potencialidades através da
relação matrimonial, este é um processo conhecido como gṛhastha-bramacarya.
4. Estes quatro estágios eram
também atribuídos as quatro divisões textuais do śruti (escrituras reveladas). A primeira fase, brahmacārin (estudante), foi atribuída ao grupo das Saṃhitās (compilação de hinos e fórmulas rituais que
compõem a primeira parte do śruti); a
segunda etapa, gṛhastha (chefe
de família), foi atribuída aos textos conhecidos como Brāhmaṇas (compõem a segunda parte do śruti e versam sobre rituais,
sacrifícios, histórias e explicações sobre as Saṃhitās); a terceira fase, vānaprastha (vida retirada na floresta), foi atribuída a literatura
conhecida como Āraṇyakas (escrituras
filosóficas e especulativas sobre a natureza do Absoluto e do ser humano e
compõe a terceira parte do śruti); a
quarta fase, saṃnyāsin
(renunciante), foi atribuída as Upaniṣads (textos
considerados pela tradição como a própria essência filosófica da antiga
sabedoria dos Vedas).
5. Existe uma tendência nos
dias de hoje, particularmente nos círculos de profissionais da área de
psicologia, em supervalorizar a expressão de emoções ou a recordação de
poderosas experiências emocionais ou traumas. Isso é uma tentativa de se conter
a tendência cultural em suprimir as emoções e negar os sentimentos. Contudo, o Tantra vê as emoções como ferramentas
para o crescimento espiritual. Essa tradição considera a afirmação válida das
emoções, ao contrário de outras tradições espirituais que negam a expressão
emocional.
Mas cuidado aqui! O Tantra não encoraja a mera expressão emocional, pois isso causa
apego às emoções e através delas ao mundo. O Tantra considera as emoções como energias armazenadas que
necessitam ser descarregadas, de maneira que como ondas possam se desfazer no
oceano da consciência. Isso ocorre quando reconhecemos que as emoções são
energias cósmicas limitadas que causam dor através do apego que temos a elas.
Quando reconhecemos o Divino ou o jogo da consciência inerente na emoção,
descobrimos a emoção como um mecanismo que revela o Divino em cada um de nós.
Portanto, mesmo não negando a emoção, o Tantra
insiste que essa negação não é a expressão de um sentimentalismo movido pelo
ego, mas a alquimia de transmutar emoções
humanas em energia divina através da devoção. Assim, o Tantra não enfatiza a expressão pessoal da emoção, mas o seu
reconhecimento como um jogo da consciência.
Nem mesmo as tradições yogīs mais ascéticas enfatizam a supressão das emoções ou negam
qualquer força da natureza que poderia servir de mecanismo para liberação de
qualquer pessoa. Isso deve ser esclarecido: não é a emoção ou qualquer aspecto
da energia em si que o Yoga procura
negar, mas o ego com sua apropriação egoísta e portanto seu abuso das energias
emocionais. O Yoga não encoraja a
supressão de qualquer coisa natural para nós, mas a descoberta de nossa
verdadeira natureza e a partir daí o natural desapego a todas as dependências
emocionais.
6. Yoga, Espiritualidade & Moralidade, por Fernando Liguori. Artigo
disponível na internet: www.srikulacara.blogspot.com.
7. Nosso estado mental está relacionado com a produção de hormônios produzidos
pelas glândulas endócrinas. As respostas cerebrais são causadas por secreções
hormonais produzidas por estas glândulas que influenciam diretamente nosso
humor e emoções, preparando nosso organismo para determinadas reações. A biopsicologia é a ciência prática da
aplicação das ferramentas do Yoga
para reduzir o impacto das emoções negativas e estimular emoções positivas.
8. Rajas, nas escrituras do haṭha-yoga, significa menstruação. Possivelmente refere-se ao óvulo eliminado
na menstruação.
9. Sendo a dança primordial da
natureza, a união sexual é um meio necessário para repor as energias masculinas
e femininas, com exceção para os casais que têm suas paixões sublimadas no amor
celestial (bhakti-mārga). O Vajikarana, aspecto da Āyurveda que lida com a virilidade, diz
que a essência vital da vida que faz do ojas
o fogo gerador de vida sutil, i.e. tejas,
só pode crescer entre o casal após um longo período dessa dança primordial ou união
mística. Assim como uma mãe alimenta seu bebê com seu próprio leite durante
um período de tempo, o macho alimenta a sua parceira com os requisitos
essenciais, i.e. os nutrientes cósmicos de seu esperma. Quando preservados
dentro do gṛhastha-brahmacarya, tanto o óvulo quanto o esperma, continuamente alimentados,
há um ganho de força progressiva até que se juntem para formarem uma nova vida.
A partir desta união, a semente brota com coragem e brilho, amadurecida pela
estima e amor infundidos nos tópicos do material sagrado fiado por um longo
período integral na relação. Quanto a
nova vida que nasce, a sua composição genética é influenciada pelas intenções
dos pais e ações muito antes de coabitação e, muito decisivamente, a partir do
momento da união entre o espermatozóide e o óvulo.
10. Sêmen. Na Āyurveda sêmen é shukra. Literalmente significa sêmen,
mas também se referir ao óvulo e aos fluídos geradores, assim como a toda forma
de reprodução no corpo. A deficiência deste tecido leva a diminuição da força,
falta de ejaculação ou ejaculação demorada, impotência, reações imunológicas
insatisfatórias, dor nas costas e região lombar, secura nas membranas, mucosas,
insegurança e falta de libido. O excesso deste tecido leva a impulsos sexuais
extremos e acessos de raiva, altera o fluxo seminal e aumenta o volume da próstata.
Seu tecido secundário é chamado de ojas.
Daí a importância enfática em sua sublimação através das técnicas mencionadas.
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Disponível na internet em www.srikulacara.blogspot.com.
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Disponível na internet em www.srikulacara.blogspot.com.
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