domingo, 28 de setembro de 2008

Ṣat Caṇḍī Mahā Yajña

Por Swami Muktananda Saraswati

© Bihar School of Yoga
© Tradução, anotações e correção diacrítica por Fernando Liguori

O Ṣat Caṇḍī Yajña é a adoração de Deus como Mãe. Um yajña [sacrifício] é executado com a finalidade de atrair a atenção de uma divindade particular, neste caso Caṇḍī; estamos chamando a Mãe e pedindo sua ajuda. Isto depende de nossa devoção. Este é um yajña bhakta. A área do yajña é considerada sagrada e deve ser tratada com respeito e decoro. A Mãe conhece todas as nossas necessidades e desejos, mas ainda temos que pedir a ela. É o trabalho da Mãe para educar a criança e prover suas necessidades, portanto, faça um saṅkalpa pedindo a Mãe Divina para ajudá-lo em suas necessidades.
Swami Satyananda Saraswati

OS at-caṇḍī-yajñas conduzidos em Rikhia são executados para a saúde, bem-estar e satisfação, não só as pessoas deste pancayat, mas para o benefício de todo o planeta. Śrī Swamijī muitas vezes nos diz que Deus lhe deu a ordem divina para servir seus vizinhos; com nossas mentes limitadas estamos acostumados a pensar nisso como nossos vizinhos em Rikhia apenas. Mas a visão de Śrī Swamijī é muito maior e abrange todo o planeta e todos os seus habitantes.

Swami Niranjanananda disse: Yajña altera a psique humana – através do fogo, os mantras, a invocação das forças superiores, todos os aspectos ritualísticos. Quando rituais externos transformam-se em internos, então ocorre jñāna. Jñāna, karma e bhakti são necessários para uma experiência humana completa. As pessoas sofrem quando ignoram um desses três. Yajña é um processo completo de viver uma vida espiritual. É o credo, a ação, o estilo de vida e isso tem um impacto humano e global. Todos os tipos de Yoga estão integrados no processo de yajña. Você percebe a si mesmo como o ofertante e a oferta. O yajña externo é aprender a dar, aprendendo a deixar de lado o apego ao que você acumula. Assim pode tornar-se espiritualmente livre.

Yajñashla

O yajñashala [pavilhão suspenso para adorações diárias] não contém estátuas, ícones, imagens ou mūrtis. Todas as representações de devī e do cosmos são puramente simbólicas. Elas são adoradas e honradas com flores frescas e presentes diariamente.

Todo ano, um bando de pássaros pequenos fazem do yajñashala sua morada. Sob o telhado de palha de sua casa nova, põem-se a realização de seus próprios rituais, com muita agitação sobre nós, dançando e cantando. Nos céus, as águias podem ser vistas circulando o composto Akhara. Talvez o comportamento ritual dos pássaros seja um símbolo, um sinal da natureza indicando sua satisfação com as atividades interconectantes do yajña. Assim como os seres humanos, conhecendo seus benefícios, arrebanham-se para o yajña, os pássaros também!

Deus como Mãe

Śrī Swamijī disse: A adoração de Deus como Mãe é muito mais fácil, porque a Mãe é a réplica do amor, compaixão e perdão eterno. Há uma distância no relacionamento com o pai. A relação entre uma criança e sua mãe é intensa, não só íntima; é uma relação muito natural. O calor da criança é mantido pela mãe e não pelo pai. O leite materno tem mantido a vida.

É muito mais fácil, natural e prático conceber Deus como Mãe. A mãe nunca considera os pecados; ela é sempre gentil e compassiva. O Culto da Mãe é a adoração de śakti. Energia, capacidade, habilidade, potencialidade – tudo isso é a adoração de śakti. A adoração de śakti é muito antiga, muito mais antiga do que todas as religiões, mesmo os Vedas. A primeira coisa que o homem viu foi à mãe. Esta é à base da adoração de śakti no Tantra, que é uma tradição mais antiga do que a cultura védica. Podemos despertar a śakti adormecida por força da vontade, utilizando o saṅkalpa. A maneira mais fácil é através do desenvolvimento da relação de mãe e filho – bhakti; isso despertará a śakti. Bhakti é uma ciência espiritual, nós não estamos sozinhos, somos parte de um todo. Que a Mãe encarnada em você possa destruir todos os demônios para que perceba a graça do Divino.

Preparativos

Com mantra e mudrā, os pândidas invocam devī, pedindo-lhe para estar presente. Através da consagração, purificação e invocação, o yajñashala inteiro torna-se a representação simbólica do universo. Mesmo os pilares são adorados como a energia que suporta o universo. Simbolicamente falando, toda a criação está instalada dentro do yajñashala, participando deste antigo ritual. Todo e qualquer recurso do yajñashala simboliza algum aspecto do universo e suas divindades. Nada é esquecido, nem mesmo os demônios, pois eles também têm um lugar na Criação Divina. Assim eles também são adorados e lhe oferecemos comida ao seu gosto.

Śrī Swamijī explicou: Os mantras promovem uma vibração sonora na atmosfera etérica e em nossa personalidade etérica. Imbuídos desta vibração, podemos nos sintonizar com as vibrações mais sutis. Sensibilize seu ser interior para sentir e experimentar o efeito sutil. Não se preocupe com o que os sacerdotes estão fazendo ou como os rituais são feitos. O intelecto é uma barreira, transcenda-o. Isso não é uma festa intelectual, não é para ser entendido. Apenas aceite. Invocamos o sem forma, sem nome, sem lugar, eterno. Geralmente, o que temos dado a Ela é proporção espacial e gênero sexual.

Todo ano Swami Niranjan acende o fogo do yajña com o método tradicional de atrito. A madeira utilizada para acender o fogo é de duas árvores diferentes, o peepul, que é masculino por natureza, e sami, que é feminina. Através desta união as primeiras chispas de fogo do yajña são criadas.

Oferendas

Śrī Swamijī nos ilumina ainda mais sobre os benefícios do yajña: Yajña purifica a atmosfera akáshica mais sutil; purifica a mente e influencia o corpo. Yajña é uma cura para os problemas ambientais, monóxido de carbono etc., sobre um indivíduo e a comunidade em larga escala. A atmosfera física e o meio ambiente são purificados. A atmosfera mental, psíquica e emocional é purificada. Aquilo que se oferece é yajña. Oferecendo comida aos pobres e famintos executamos yajña. Ajudando pobres almas realizamos yajña. Para dar e dar e dar praticamos yajña. Ya-ja-ña, produção, distribuição, assimilação. Deve haver um equilíbrio entre esses três.

Todas as religiões têm histórias de guerra e batalhas, elas são símbolos de nossa luta com as tendências inferiores da vida, as limitações que temos, bloqueios de personalidade, como a ignorância [avidyā]. Yajña nos ajuda a vencer estas tendências, limitações e bloqueios. Yajña eleva a consciência. Faça um saṅkalpa: Deus revela-se para mim sob qualquer forma. Yajña não é um assunto de lógica ou de intelecto, é um assunto de coração.

Nós podemos oferecer todas as nossas características negativas, hábitos e atitudes para o fogo, como ego, ciúme, ódio, vícios, arrogância, mal-entendidos, procrastinações e outros aspectos ignóbeis de nós mesmo. Os sentidos podem ser oferecidos em conjunto para o fogo do auto-controle, juntamente com os objetos dos sentidos. Também podemos oferecer as nossas características positivas, qualidades e habilidades para devī, pedindo-lhe que nos auxilie a usar essas habilidades em um seva verdadeiro.

Inúmeros itens naturais são oferecidos durante a execução do yajña como representações simbólicas e belos presentes para a Mãe. Um fluxo contínuo de ghee (um símbolo de riqueza) é oferecido para as chamas em todo o yajña. Esta é uma oração pedindo um fluxo contínuo de abundância e prosperidade para toda a humanidade e a essência do saṅkalpa de Śrī Swamijī.

O sacrifício final

Swami Niranjan realiza o sacrifício final do yajña – o sacrifício de uma representação simbólica da humanidade. Ele se ajoelha aos pés de devī, equilibrado com uma espada erguida. Rapidamente, com foco unidirecionado, ele executa o sacrifício, cortando o símbolo – uma abóbora – em cinco pedaços. O vermelhão, que representa o nosso sangue derramado, é friccionado ao longo da lâmina da espada e para os cinco pedaços do símbolo sacrificial. Estes cinco peças também representam o sacrifício dos cinco sentidos. Cânfora é colocada sobre o vermelhão e depois queimada. A cânfora queimada é o ego que, em fusão, torna-se um com a Luz Divina. O sacrifício, tudo em chamas, é então ofertado aos pés de devī, uma oferenda que representa todos nós – completamente.

O yajña-rajasūya tem três componentes essenciais: o culto da divindade, a instalação ritualística e o dān, dar e receber. Śrī Swamijī disse: O que damos não é nosso, são presentes para devī. Há uma disposição clara para se doar no yajña-rajasūya. O yajña não está completo sem o dān. Esta era a tradição, quando Śrī Rāma governou a terra. Todos os reis que haviam sido vencidos por Śrī Rāma vieram ofertar presentes ao yajña do rei conquistador, que por sua vez entregou mais presentes.

Śrī Swamijī está seguindo a mesma tradição. Quaisquer que sejam os presentes oferecidos a ele, ele os oferece como prassada. Afinal, os dons vêm através das mãos amorosas da Mãe.

Swami Niranjan nos disse: Yajña faz parte do Śivananda Yoga, yajña é a totalidade que estamos considerando, tudo que nos cerca. É cuidar, nutrir e apoiar o crescimento de todos e de tudo o que está ao nosso redor. Este é o cumprimento da vida como seres humanos. Ter energia para elevar os outros é yajña, seja espiritual ou material. O planeta inteiro é nossa casa, esta é a única visão através de yajña.

Esta é a mensagem que os Swamis Sivananda, Satyananda e Niranjanananda querem que nós incorporemos com coração, cabeça e mãos em serviço abnegado a toda a criação. 2002 foi o segundo ano dos 12 anos yajña-rajasūya. A cada ano ele nos presenteia. No primeiro ano ele deu a cada um o vastra (pano). Este ano ele deu o patra (contentores) e em 2003 ele nos deu anna (grão). Portanto, vai haver muitas oportunidades para todos nós contribuirmos para esta missão de serviço abnegado e, assim, começarmos a aprender o que verdadeiramente significa ser um ser humano desenvolvido.

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