terça-feira, 5 de novembro de 2013

Introdução a Anatomia do Corpo Sutil



Por Fernando Liguori


Influência Tântrica

O conhecimento da anatomia e a fisiologia do corpo sutil pode ser observado desde a época das Upaniṣads, porém, seu desenvolvimento integral ocorreu com o advento do Tantra, que surgiu como um movimento cultural que influenciou toda espiritualidade da Índia.

Uma das influências mais nítidas do Tantra em toda cultura e religiosidade hindu diz respeito à concepção do corpo humano que em muito difere do que até então era tradicional na Índia. Muitas das tradições ascéticas consideravam o corpo como um mero acúmulo de vísceras, cuja natureza é corrompida e cujo destino final é morrer e apodrecer. Talvez o exemplo mais claro disso é o que aparece no Agni Purāṇa (LI: 15):

O asceta (yati) concebe seu corpo, na melhor das hipóteses, como uma bolha de pele, rodeado de músculos, de tendões e de carne, cheio de urina, fezes e impurezas malcheirosas, habitáculo da doença e do sofrimento, vítima certa da velhice, da tristeza e da morte, mais transitório que uma gota de orvalho numa folha de erva.

Na Maitrāyanīya Upaniṣad (I: 3) também podemos encontrar uma definição semelhante:

Ó Ser Venerável, o que há de bom no usufruto dos desejos neste corpo malcheiroso e sem substância, num mero conglomerado de ossos, pele, tendões, músculos, medula, carne, sêmen, sangue, muco, lágrimas, fezes, urina, gazes, bile e catarro? O que há de bom no usufruto dos desejos neste corpo que é afligido pelo desejo, pela ira, pela cobiça, pela ilusão, pelo medo, pelo desânimo, pela inveja, pela separação em relação às coisas queridas e a proximidade das não-queridas, pela fome, pela sede, pela velhice, pela morte, pela doença, pela tristeza, pesar e tudo mais?

Mircea Eliade, eminente historiador das religiões, diz em seu livro Yoga, Imortalidade e Liberdade (p. 156) que no tantrismo, o corpo humano adquire uma importância que nunca havia tido antes na história espiritual da Índia. Essa nova atitude se expressa sinteticamente no Kulārṇavatantra (I: 14): dentre os 840.000 tipos de seres corpóreos, o conhecimento da Realidade somente pode ser adquirido pelo [corpo] humano.

Com o aparecimento do Tantra, surge, então, uma nova visão do corpo: a de que ele é um templo do divino, pois permite uma série de investigações, reflexões e experiências que o tornam um instrumento fundamental para a realização espiritual e a iluminação.

O Tantra é um importante marco na história do Yoga, pois trás a luz uma nova concepção do corpo, que antes disso, era considerado um obstáculo para a libertação, fonte da corrupção e inimigo do Espírito. Esta visão de corpo como um monte de coisas substanciais temporais, deu lugar a uma concepção física da morada de Deus, e o preparo do corpo tornou-se um processo alquímico para realizar a perfeição espiritual. O corpo passou a ser visto como um reflexo do macrocosmo, que contém em seu interior todos os segredos do universo.

Kośas

A Prāsna Upaniṣad (III: 12) diz: Aquele que conhece a origem do prāṇa, suas entradas nos corpos, seus locais de atuação, modos como se distribuem e suas cinco divisões, seus aspectos internos e externos, obtém a imortalidade; sim, obtém a imortalidade.

A concepção de que o ser humano possui mais corpos além do físico está presente em três escolas do Hinduísmo: Vedānta, Sāṁkhya e Yoga, sendo que essas últimas apresentam a mesma proposta. Embora se possa encontrar referências da existência de uma anatomia sutil nas antigas Upaniṣads, foi somente nos textos mais recentes do Tantra e do Yoga que podemos nos deparar com uma descrição mais detalhada e desenvolvida dessa anatomia.

Para o hindu, toda forma de energia é denominada prāṇa. No Ṛg-Veda (X: 90.13), é dito que prāṇa indica a respiração do puruṣa cósmico e da vida em geral. O Yoga Vaśiṣta (III: 13.31), define o prāṇa como o poder vibratório (spandaśakti) que está presente em todo o tipo de manifestação. O prāṇa é a energia do corpo sutil, tido como o molde energético do corpo físico. No Atharva-Veda (XI: 4.11) o prāṇa é concebido como força vital.

A Taittiryia Upaniṣad (Pt. II: 1–5), descreve os corpos do ser humano em número de cinco, sendo eles denominados kośas, que pode ser traduzido como invólucro, camada. Assim, temos o annamaya kośa, o corpo físico denso, feito de alimentos (anna); o prāṇamaya kośa, o corpo feito de bioenergia ou energia vital (prāṇa); o manomaya kośa, o corpo dos pensamentos e emoções (manas); o vijñānamaya kośa, revestimento feito de conhecimento e intuição (vijñāna). É chamado corpo da intuição superior; e ānandamaya kośa, o corpo de bem aventurança (ānanda). Esses cinco kośas cobrem e ocultam a Realidade definitiva e que, apesar desse modelo não ser típico do Tantra, seus adeptos adotam as distinções funcionais (corpo, mente, força vital, inteligência superior e bem aventurança).

Quanto à anatomia desses corpos, apenas dois são conhecidos: annamaya kośa, que é constituído dos órgãos, tecidos, enfim, os elementos anatômicos conhecidos pela nossa medicina; e o prāṇamaya kośa, cuja descrição foi amplamente desenvolvida pela escola do Yoga, principalmente depois do advento do Tantra. Quanto aos outros corpos, os textos são omissos ou desconhecidos.

O Tantra, além de descrever melhor esses corpos, desenvolve uma visão mais profunda e detalhada da anatomia sutil do prāṇamaya kośa. Difere, porém, na concepção e nomenclatura dos corpos, que, tanto para o Yoga quanto para o Sāṁkhya, são apenas três e são denominados śarīras, a saber: sthūla śarīra, o corpo denso, feito de alimentos; sūkṣma śarīra, o corpo sutil; e kāraṇa śarīra, o corpo causal. Entretanto, os textos mais recentes do Yoga e do Vedānta apresentam uma equivalência entre as nomenclaturas existentes. Essa tendência é considerada em muitas escolas tântricas como p.e. dakṣinamārga e vāmamārga.

O ser humano possui três corpos (śarīras) que têm relação com cinco invólucros (kośas). Esses invólucros é que encobrem aparentemente o Ser (ātman), causando a falsa experiência do eu limitado e separado do corpo total da criação. Sthūla śarīra, o corpo grosseiro, corresponde a tudo que é físico, tangível, está relacionado diretamente com os elementos densos. Aqui está incluído o annamaya kośa, a bainha do alimento, formada pelos elementos densos que ingerimos através da alimentação. Sūkṣma śarīra, o corpo sutil, é constituído pelas emoções, sensações, sentimentos e está relacionado à mente, ao intelecto e ao prāṇa, a energia sutil. Relacionam-se aqui três kośas: vijñānamaya kośa, a bainha do intelecto, é responsável pela noção de individualidade, regendo o ego (ahaṁkāra); manomaya kośa, a bainha da mente, traz em si todos os instrumentos psíquicos de percepção do mundo exterior, bem como a herança genética e os condicionamentos individuais; e o prāṇamaya kośa, a bainha do prāṇa, onde se encontra os cakras, dentre outros elementos sutis.

Kāraṇa śarīra, o corpo causal, que na alma individual, é constituído pela ignorância que limita a consciência do homem, impedindo-o de ter a percepção de sua união com ātman, o Ser. Relacionado a este corpo está ānandamaya kośa, a bainha da bem-aventurança, responsável pelas experiências de felicidade autóctones do ātman, mas que devido à ignorância, são vistas como provenientes do mundo físico.

Um exemplo claro dessa equivalência nos textos sagrados é o Yuktabhāvadeva, um texto do Yoga escrito por Bhāvadeva Miśra no Séc. XVII d.C., onde podemos encontrar no Capitulo 3:

Sthūla śarīra (corpo grosseiro) consiste de cinco tanmātras e cinco mahābhūtas. Ele é chamado de annamaya kośa.

Sūkṣma śarīra (corpo sutil) consiste de 17 constituintes, incluindo os cinco prāṇas (principais), os cinco órgãos dos sentidos, os cinco órgãos motores, a mente (manas) e buddhi (intelecto). Ele inclui o prāṇamaya kośa, manomaya kośa e vijñānamaya kośa. Kāraṇa śarīra contem o ānandamaya kośa.

O Yuktabhāvadeva, além de prever a equivalência da anatomia sutil entre Yoga e Vedānta, inclui em sua descrição aspectos desenvolvidos pelo Sāṁkhya e adotados pelo Yoga, que consideram que a matéria possui três características distintas que, combinadas entre si, estão presentes em toda e qualquer manifestação da criação. Essas características são denominadas como guṇas.

Antes da Criação do Universo, a Natureza material existia em um estado caótico imanifesto denominado prādhana (a substância primordial) ou prakṛti (a Natureza). Ela se caracterizava primordialmente como apenas uma única substância e se constituía na raiz natural (mūla-prakṛti) de todas as coisas.

Dela, pela influência do tempo (kāla) pulsando em três ondas, manifestam-se as guṇas e seus três modos ou qualidades fundamentais: 1. Tamas, a passividade, estabilidade ou ignorância; 2. Rajas, a atividade, flexibilidade ou paixão; e 3. Sattva, a harmonia e a bondade. Estes se manifestam nos sentidos em movimentos cíclicos, de translação e vibração.

Guṇa, em sânscrito, é um substantivo masculino, derivado da raiz verbal √grah, i.e. agarrar, segurar, prender, e significa corda, qualidade, modo ou atributo. As guṇas (modos da natureza material) prendem o homem à natureza como três cordas resistentes. Logo, o mundo material de māyā é às vezes chamado de tri-guṇa-mayī, i.e. feito de três guṇas.

1.     Sattva é um substantivo formado do particípio Sat (ou sant), que deriva de as-, o verbo ser; Sat significa ser, como deve ser, bom, bem ou perfeito. Portanto, sattva é o estado ideal de ser, bondade, perfeição, pureza cristalina, brilho imaculado e completa quietude. A qualidade de sattva predomina nos deuses e seres celestiais, nas pessoas altruístas, e nos homens dedicados a busca puramente espiritual. Este é o guna que facilita a iluminação.
2.     Rajas é um substantivo que significa, literalmente, impureza. Com referência a fisiologia do corpo feminino, significa menstruação.[i] Em um sentido generalizado, . A palavra está relacionada com rañj-, rakta, i.e. vermelhidão, cor, e com rāga, que significa paixão. O pó citado é aquele que continuamente é agitado pelo vento em uma terra onde não chove pelo menos dez meses por ano, visto que na Índia excetuando a estação chuvosa, há somente o orvalho noturno para acalmar a sede da terra. O pó redemoinha com o vento, embaçando a serenidade do céu e cobrindo tudo. Por outro lado, no período das chuvas, o pó se assenta e, durante a maravilhosa estação outonal que segue às chuvas – quando o Sol dispersa as pesadas nuvens –, o céu fica imaculadamente claro. Por causa disso a palavra sânscrita para outonal, śārada (derivada do substantivo śārad, outono), conota frescor, jovem, novo, recente, e viśārada (abundância outonal), significa esperto, hábil, proficiente, experimentado, versado ou instruído em algo, douto e sábio. Em outras palavras, o intelecto do sábio é caracterizado pela grande visibilidade do firmamento outonal, que é transparente, límpido e completamente claro, ao passo que o intelecto do néscio está repleto de rajas, o pó vermelho da paixão.

O rajas embaça o aspecto de todas as coisas, obscurecendo a visão não apenas do Universo, mas também de si mesmo. Logo, produz confusão intelectual e moral. Entre os seres mitológicos, o rajas predomina nos titãs, aqueles antideuses ou demônios que representam a vontade do poder em toda sua força, imprudentes em sua busca por supremacia e esplendor, cheios de ambição, vaidade e egoísmo jactancioso. O rajas é evidente em qualquer lugar entre os homens, como a força motivadora de sua luta pela existência. É o que inspira os desejos, preferências e desagrados; rivalidades e a vontade de usufruir as coisas do mundo. Compele homens e animais a lutar pelos bens de sua vida, negligenciando a necessidade e o sofrimento dos demais.
3.     Tamas é um substantivo que pode ser comparado à palavra tene-brae (latin), ténè-bres (francês) e tene-broso (português). Literalmente, tamas significa escuridão, negro e azul-escuro. Espiritualmente, denota cegueira e conota a inconsciência que predomina nos reinos mineral, vegetal e animal. Tamas é a base de toda falta de sentimento, de toda estupidez, crueldade, insensibilidade e inércia. É causa de melancolia, insegurança, ignorância, erro e ilusão. A rudeza da matéria aparentemente inanimada; a muda e cruel luta entre as plantas pelo solo, a umidade e o ar; a gula impassível dos animais em busca de alimentos e seu modo impiedoso de devorar suas presas são algumas das manifestações deste princípio universal. No plano humano, tamas se manifesta na estupidez embotada dos que se encontram mais centrados em seus egos, mais auto-satisfeitos – os que consentem com qualquer coisa desde que não interfira em seu descanso, segurança e interesse pessoal.

Prāṇas e Vāyus

O prāṇamaya kośa, camada ou corpo de vitalidade, está composto de cinco formas diferentes que a energia vital (prāṇa) assume, de acordo com seu movimento e direção no interior do corpo. O prāṇa é um só e essa divisão é apenas uma didática para uma melhor compreensão das diferentes funções que ele assume. Essas cinco formas da força vital recebem o nome de vāyus. Sobre estes ares vitais, a Prāsna Upaniṣad (III: 3-7), cita cinco principais: prāṇa, apāna, samāna, vyāna e udāna; comenta sua localização e suas funções. Essa concepção também é aceita pelas escolas de Yoga, onde, posteriormente, poderemos encontrar seu desenvolvimento nas Upaniṣads do Yoga. A Amṛtabiṅdu (95-98) e a Amṛtanāda Upaniṣad (34-38) comentam sobre a cor e a localização dos prāṇas. Sobre a localização e funções dos prāṇas, diz a Prāsna Upaniṣad (III: 5-9):

Prāṇa propriamente dito, habita o olho, o ouvido, a boca e o nariz. Apāna, o segundo prāṇa, governa os órgãos de excreção e os reprodutores. Samāna, o terceiro prāṇa, está localizado na região umbilical e comanda a digestão e a assimilação dos alimentos. O ātman reside no coração, de onde partem 101 nāḍīs; de cada um deles, partem uma centena de ramos e de cada um deles se origina setenta e dois mil outros nāḍīs ainda menores. Em todos eles se move o quarto prāṇa, denominado vyāna. Udāna, o quinto prāṇa, é aquele que conduz o homem virtuoso para um nascimento mais elevado e o homem cheio de vícios e paixões, para um nascimento inferior. O homem possuidor de qualidades boas e más, udāna conduz ao renascimento no mundo dos homens. O sol, verdadeiramente, contem o prāṇa externo. A terra é controlada por apāna. O espaço e o éter entre a terra e o céu, são controlados por samāna e o ar, por vyāna. O fogo contém udāna. Verdadeiramente, aquele cujo fogo vital se extingue é conduzido ao renascimento, tendo os sentidos absorvidos pela mente.

A Dhyānabiṅdu Upaniṣad (95-98) estabelece as cores, elementos e os bījās, germes ou sementes que são correlacionados com cada prāṇa. Parte-se do pressuposto que, ao serem estimulados com essas sementes, os centros energéticos responsáveis pelo funcionamento do prāṇa correspondente é ativado. A Amṛtanāda Upaniṣad, conhecida como a Upaniṣad do Som Imortal (o pranava Oṁ), ensina a pronúncia exata do Oṁ acrescido do biṅdu. O verso quatro deixa claro que a presença do biṅdu indica a nasalização da parte final do bījā. Assim sendo, as letras que determinam a semente do prāṇa, devem ser nasalizadas nas práticas tântricas que incluem a energização dos cakras.

Prāṇa significa literalmente força que se move para frente. Regula todos os processos de absorção: o movimento inspiratório, a assimilação de alimentos sólidos e líquidos e a recepção das impressões sensoriais. É centrípeto por natureza e tem como finalidade colocar as coisas em movimento. Localiza-se na parte superior do tórax, entre a garganta e o umbigo.

Na Dhyānabiṅdu Upaniṣad (95), é dito que o prāṇa é da cor de uma nuvem carregada de chuva e seu germe é Ya, indicando o bījāmantra do cakra cardíaco (anahātacakra), já que Ya acompanhado com o biṅdu torna-se Yaṁ. A Amṛtanāda Upaniṣad (34) localiza o prāṇa na região do coração e diz que ele é da cor vermelho-sangue.

Apāna significa literalmente força que se move para fora. Controla todos os processos de excreção (sêmen, urina e fezes) e eliminação (de dióxido de carbono na respiração, transpiração, menstruação e nascimento). Por causa dessa função de expulsão, o ápana é responsável pelo bom funcionamento do sistema imunológico. No nível sutil, regula a expulsão das experiências negativas, emocionais e mentais. Movimenta-se centrifugamente, para baixo e para fora e está localizado na parte inferior do abdômen.

A Dhyānabindu Upaniṣad (95), localiza o apāna na região do maṇipūracakra, sede do bījā Raṁ; a cor de apāna é do sol. A Amṛtanāda Upaniṣad (34), afirma que a apāna está localizada perto do ânus e que sua cor é amarela como a cólera de Indra. Como pode-se perceber os textos diferem ente si quanto à localização do apāna.

Udāna significa literalmente força que expulsa. Governa o crescimento do corpo, a habilidade de ficar em pé, falar, esforçar-se e entusiasmar-se. Regula a distribuição da energia vital na região do pescoço. No plano sutil, regula os movimentos de transformação positiva e evolução da nossa existência.

A Dhyānabindu Upaniṣad (96), diz que udāna é da cor do nácar, e que seu germe é a letra Va (Vaṁ) e o elemento é a vida, o que parece ser uma analogia ao elemento água, localizando este vāyu, portanto, no svādhiṣṭhānacakra. Já a Amṛtanāda Upaniṣad (37) diz que udāna fica na garganta e é de cor amarelão.

Sāmana significa literalmente força que equilibra. Movimenta-se circularmente, da periferia para o centro, na região média do abdômen, entre Prāṇa e apāna. Auxilia os processos digestivos em todos os níveis. Trabalha o trato gastrointestinal na digestão do alimento, os pulmões na absorção do oxigênio e a mente na assimilação de experiências sensoriais, emocionais ou mentais.

É dito na Dhyānabiṅdu Upaniṣad (97), que samāna é da cor do cristal, sua localização é onde mora o elemento éter, (viśuddhacakra), muito embora este vāyu esteja presente em todo corpo, do coração ao grande artelho, passando pelo umbigo, o nariz, a garganta, os pés. Já a Amṛtanāda Upaniṣad (34-37), apresenta samāna localizada no umbigo e sua cor é branca, resplandecente como o leite da vaca.

Vyāna significa literalmente força que se move para fora. Movimenta-se do centro para a periferia, entre o tronco e os membros. Controla todos os níveis de circulação: movimenta os nutrientes no corpo, os sentimentos e pensamentos no psiquismo, a administração da força de vontade e a coordenação dos outros quatro prāṇas.

A Dhyānabiṅdu Upaniṣad (96), diz que vyāna é de cor vermelha e correlaciona este prāṇa com o elemento terra e com o bījā Laṁ, indicando ser sua localização no mūlādhāracakra. Entretanto, é dito na Amṛtanāda Upaniṣad (34), que a natureza de vyāna é de difundir-se pelo corpo inteiro, sendo essa sua localização; e sua cor é a cor do fogo.

Além desses cinco prāṇas principais, há ainda algumas outras correntes nervosas secundárias no homem, que eles classificam como sub-prāṇas. São os prāṇas secundários descritos na Yoga Cudamani Upaniṣad, a saber: nāga (serpente) é encarregada de aliviar a pressão abdominal induzindo o arroto, o soluço e a salivação. kūrma (tartaruga), sua função é comandar a abertura e o fechamento das pálpebras. kṛkara (pássaro), que provoca o espirro e a tosse. Induz a fome e a sede. dhanaṅjaya (conquistador de riquezas). Responsável pela sustentação e decomposição do corpo. Devadatta (dado por Deus) que induz o bocejo e o sono.

Nāḍīs e Cakras

O prāṇa atua no prāṇamaya kośa através de um complexo sistema de canais, as nāḍīs, que são encarregadas de distribuir a energia e de fazê-la circular por todo o corpo. O prāṇa é a energia vital descontínua, que se juntam e formam, dessa maneira, as correntes, ou nāḍīs, e os vórtices de energia, chamados cakras.

Nāḍī é derivada de nad, que significa um talo oco, ou ainda, som, vibração, ressonância. As nāḍīs são tubos, condutos ou canais que levam ar, água, sangue, nutrientes e outras substâncias para o corpo humano. São nossas artérias, veias, capilares, bronquíolos etc., e que no sthūla śarīra são canais através dos quais circulam a energia vital, a energia seminal e outras, bem como as sensações e a consciência. As muitas nāḍīs existentes recebem denominações diferentes de acordo com as funções por elas desempenhadas.

Sobre a questão de equiparar as nāḍīs como os condutos físicos (veias, artérias etc.), o Yogācārya Iyengar faz uma ressalva, posto que, sendo elementos sutis, não podem ser comparados com a matéria. Igualmente, G. Feuerstein aponta que essa comparação pode ser apenas análoga, ao invés de idêntica.

Na Śivasaṁhitā são mencionadas 350.000 nāḍīs. Outros textos tântricos, como o Ṣaṭcakra Nirūpana, falam de 72.000. A Triśikhibrahmana Upaniṣad (II: 76) reconhece que esse número é incontável. Entretanto, destacam-se quatorze nāḍīs, dentre as quais existem três principais: Suṣumṇā, īḍā e Pingalā. Diz a Dhyānabiṅdu Upaniṣad (50-56):

[...] acima do sexo e abaixo do umbigo se encontra um bulbo em forma de ovo, de onde emanam os canais em numero de 72 mil; desses milhares de canais, somente se toma em consideração setenta e dois. Os mais importantes são dez por onde circulam os sopros a saber: a īḍā, Pingalā, unidas à suṣumṇā; a gāndhārī, a hastijīhvā, a pūṣa, a yaśāsvinī, a alambuśā, a kuhū e enfim a śankhinī. É assim que é constituīḍā a roda dos dez canais: os yogīs devem ligar-se constantemente ao seu estudo. Os três canais principais onde circulam os alentos possuem por divindade a Lua, o Sol e o Fogo; são chamados a īḍā, a Pingalā, e a suṣumṇā. Īḍā está à esquerda, Pingalā à direita, suṣumṇā ao centro. Esses são os três caminhos por onde passam os cinco alentos: Prāṇa, apāna, udāna, vyāna e samāna.

Suṣumṇānāḍī é um canal central, reto, que parte do primeiro centro de energia (mūlādhāracakra) e vai até o último (sahasrāracakra), passando por todos os centros principais (cakras), sem perfurá-los. É também conhecida como a nāḍī do fogo. Acompanha a coluna vertebral e corresponde no corpo grosso ao sistema nervoso central.

Dentro da suṣumṇānāḍī existe uma estrutura peculiar denominada vajranāḍī, o canal do raio, que é reluzente como o sol. Dentro de vajranāḍī existe um outro canal, o citrinīnāḍī, que é de cor pálida. Dentro de citrinīnāḍī existe, ainda, um canal muito fino que se conhece como brahmanāḍī, que é por onde a energia kuṇḍalinī ascende, iluminando a consciência. A extremidade de brahmanāḍī é chamada brahmadvara, que significa porta de Brahman.

À esquerda da suṣumṇā está īḍānāḍī que também é chamada candranāḍī, ou nāḍī da lua. Vai do testículo esquerdo até a narina direita. Representa a lua, o frio, e corresponde ao sistema parassimpático.

À direita de suṣumṇā está pingalānāḍī, também chamada sūryanāḍī, ou nāḍī do sol. Vai do testículo direito até a narina esquerda. Representa o sol, o calor e corresponde ao sistema simpático.

Existem algumas características psicológicas que estão vinculadas à predominância de energização de īḍā e pingalānāḍī. As características psicológicas de īḍānāḍī formam: Pessoas introvertidas por natureza, que sonham durante o dia, pensam muito, que são conscientes dos seus sentimentos e geralmente muitos sensíveis a fatos externos e experiências interpessoais. Geralmente pensam em catástrofes e têm pouca perspectiva da realidade, raramente são ativos, possuem pouca energia para agir e executar seus planos. São indivíduos com pouca vitalidade física e sujeitos a doenças como constipação, depressão, ansiedade, colites, eczemas e um grande numero de doenças psicossomáticas. Īḍā está relacionada com o lado esquerdo do corpo e com características como pensamentos criativos e intuitivos; qualidades como emotividade e passividade; e aspectos do tipo conservador, receptivo, cooperativo, sintético e holístico.

Às características psicológicas de pingalānāḍī são: pessoas extrovertidas que tem pouco acesso a experiências internas e que procuram preencher esse vazio interno com prazeres, desejos e ambições externas. Normalmente são inquietas e irritáveis, com dificuldades de relacionamento. Os indivíduos com predominância de pingalānāḍī tendem a ativar extremamente o sistema nervoso simpático, secretando muito ácido e produzindo úlceras, angina pectoris ou elevando a pressão sanguínea além dos limites normais. Estão constantemente em estado de preparação para luta ou fuga, secretando muita adrenalina e fazendo pouco exercício para queimar as secreções químicas excessivas. Normalmente suas doenças se manifestam no desequilíbrio das secreções endócrinas e processos metabólicos. Pingalānāḍī está relacionada com o lado direito do corpo, com pensamento lógico e racional e aspectos tais como assertividade, agressividade, autoritarismo, competitividade e exigência.

Suṣumṇā, īḍā e pingalānāḍī partem do mūlādhāracakra, o primeiro centro psico-energético localizado em um ponto chamado de mukta-triveni. Enquanto o suṣumṇānāḍī sobe em linha reta, īḍā e pingalānāḍī vão se cruzando em linha sinuosa, através dos cakras. Īḍā e pingalā voltam a encontrar-se no ājñācakra, em um ponto chamado yukta-triveni, de onde se encaminham para a narina esquerda e direita, respectivamente. Somente a suṣumṇānāḍī sobe até o último cakra.

Outro ponto importante mencionado na Dhyānabiṅdu Upaniṣad (50-51), é a presença do kanda, uma estrutura oval, de onde emanam todas as nāḍīs. Este ponto também é conhecido como nabhicakra, e sobre ele fala a Cudamany Upaniṣad (I: 13-16):

No centro do estômago, o centro do umbigo repousa no círculo conhecido como maṇipūra. Entre o umbigo e a ultima vértebra da coluna está o centro do umbigo, formado como um ovo de passarinho. Este centro encerra dentro de si mesmo o começo de setenta e duas mil nāḍīs, das quais setenta e duas são vitais. Destes, novamente, dez são os mais importantes. A fim de que se tenha o devido controle sobre esses dez nervos, um tem que receber atenção especial.

O kanda é importante para qualquer tipo de prática de Yoga, pois este centro, estando fora do seu lugar, prejudica o funcionamento das nāḍīs, afetando assim a circulação do prāṇa pelo corpo. Antes das práticas yogīs, o exame do kanda deve ser realizado. Estas são as consequências do deslocamento do kanda: estando acima do umbigo, provoca prisão de ventre, tornando o corpo sujeito à uma infinidade de doenças; deslocado para baixo, produz cólicas, pesadelos, entre outros; e para os lados, causa dores agudas não localizadas. Ainda pode provocar nas mulheres: irregularidades menstruais, coloração estranha do fluxo menstrual e esterilidade permanente. Nos homens provoca espermatorréia e ejaculação precoce.

Também a Haṭhapradīpikā (III: 113) fala sobre o kanda. No Capítulo 3, Verso 113, yogī Svátmáráma afirma a localização e a cor do kanda:

O centro do corpo sutil (kanda, localizado atrás do umbigo) tem uma extensão de doze dedos. Está situado por cima do ânus, a uma distância de quatro dedos e tem um aspecto delicado, de cor branca, como coberto por um pedaço de pano branco.

Os centros de energia pelos quais passam as nāḍīs são chamados cakras. Cakra pode significar roda, disco ou círculo, também movimento e anel, podendo, além disso, recebem o nome de padma (lótus). Os cakras são centros psico-energéticos que recebem, acumulam, transformam e distribuem energia pelo corpo através das glândulas endócrinas que regem, além de designarem as características de personalidade, atuando também no campo psíquico.

Em relação ao movimento dos cakras, eles giram para ambos os lados, de forma muito rápida. Girando no sentido horário, estes centros energéticos projetam energia para fora, distribuindo-a para a área que lhe é destinada. E no sentido anti-horário, os cakras captam energia do ambiente. Pensemos nos cakras como redemoinhos com o centro mais claro que as extremidades, girando vertiginosamente em ambos os sentidos.

Os cakras são representados de forma simbólica através de uma maṇḍala, palavra sânscrita que designa um circulo ou diagrama místico dotado de profundo simbolismo. A maṇḍala é um yantra inserido num círculo ao invés de um quadrado, como é tradicionalmente figurado. Tal como a maṇḍala, o yantra também é um diagrama mágico-simbólico que tem o poder de concentrar a energia psíquica e aumentá-la.

Do círculo saem pétalas de um lótus, sendo que cada cakra possui um número especifico de pétalas que designam duas coisas: a disposição das nāḍīs que o rodeiam; e as letras do alfabeto sânscrito, que correspondem aos vṛttis, ou latências psíquicas e também os poderes sonoros sutis. As pétalas são os subvórtices dos cakras chamados em sânscrito de vṛttis. São os vórtices da mente. Cada vṛtti emana uma determinada energia psíquica e podemos dizer que a combinação dos aspectos dos 50 vórtices compõe os bilhões de personalidades humanas que existem. A harmonização dos vórtices é uma tarefa para muitas vidas e a medida que o homem evolui espiritualmente eles passam a funcionar de uma maneira tal que nossos sentimentos e emoções não nos dominam mais.

Quando um determinado vṛtti de um cakra é estimulado, ele torna-se desequilibrado e este padrão energético flui através das milhares nāḍīs do corpo sutil, perturbando a tranquilidade da mente. Como os cakras estão ligados a uma determinada glândula, o hormônio relacionado a ela é hiper ou hipo estimulado, modulando sua produção e provocando sintomas físicos e emocionais perceptíveis.

Cada cakra é governado por um tattva, o elemento do qual se originou, que é representado por uma figura geométrica. É o tattva que também designa a cor de cada cakra. No centro da maṇḍala há uma letra sânscrita que é a semente (bījā) do mantra, um som fundamental que corresponde ao elemento do cakra.

O bījā mantra está sentado sob um animal, o que denota as qualidades do tattva, e também simboliza o veículo (vāhana) da deidade masculina que governa cada cakra.

Cada cakra têm, portanto, uma deidade masculina (devata) e uma feminina (śakti), com diferentes nomes e atributos. Os devatas representam o aspecto da consciência (cit) da parte do corpo correspondente ao cakra. As śaktis, por sua vez, representam a parte sutil das substâncias corporais (dhatus), que e desempenham um papel fundamental em seu desenvolvimento e nutrição.

Esses elementos constituintes dos cakras são símbolos das propensões e latências associadas a cada centro. Eles falam diretamente à mente subconsciente. Não precisam ser interpretados. A única coisa a fazer é observar-se frente a eles, e às emoções que despertam.

Granthis e a Kuṇḍalinī

Existe outro símbolo que está presente em três cakras e que merece aqui uma introdução: é a presença de um triângulo invertido com um liṅga (falo) em seu interior, indicando um (granthi), que configura um obstáculo à ascensão da kuṇḍalinī. Os três granthis estão no mūlādhāra, anāhata e ājñācakra.

Esses granthis são um obstáculo para a realização da percepção plena da realidade de cada cakra, por conter em si um poder maior de māyāśakti (poder da Criação). Māyāśakti é triguṇatmika, possui três guṇas, ou características, e por isso é representada por um triângulo. Os três vértices do triângulo possuem três biṅdus (pontos) que correspondem ao fogo (vahni-biṅdu), à lua (candra-biṅdu) e ao sol (sūrya-biṅdu). Dos biṅdus, emanam três śaktis, três poderes que são representados pelas linhas que ligam os biṅdus: śakti-vama (desejo), śakti-jyestha (ação) e śakti-raudri (conhecimento). Com elas estão Brahma (o Criador), Viṣṇu (o Preservador) e Śiva (o Transformador), respectivamente, e que também relacionam-se com os três guṇas: raja, tama e sattva.

O triângulo invertido também indica o movimento descendente e as três nāḍīs principais: īḍā, pingalā e suṣumṇānāḍī. O encontro delas tem a forma de um triângulo invertido, o que faz com que a energia desça. De cor vermelha, o triângulo simboliza a mulher, ou o órgão sexual feminino ou yoni. Esse triângulo se chama kāmarupa, brilha constantemente. Seus ângulos representam icchā (a vontade), kriyā (a ação) e jñāna (o conhecimento).

A kuṇḍalinī é expressa em inúmeros manuais tântricos como um poder, uma energia, uma ondulação vigorosamente vibrante que pode ser expandida. Ela é um aspecto de nosso próprio Ser. Embora o Ser esteja no nível de uma experiência inefável e incognoscível, ele é uma imagem do Absoluto e como tal admite dois aspectos: um estático e um dinâmico. Na linguagem tântrica, Śiva (prakāśa) representa o aspecto estático, a consciência transcendente que está além do Tempo e do Espaço. O aspecto dinâmico é conhecido pelo termo shakti-cidrúpinī (vimārśa-śakti) ou kuṇḍalinī que, sendo imanente – embora dinâmico – se restringiu e se limitou a um espaço restrito de consciência, i.e. o estado de vigília. Alguns estudiosos, por esta razão, a denominaram equivocadamente como o princípio estático da consciência, admitindo assim que ela deve ser colocada em movimento, que ela deve ser desperta, quando na realidade ela deve ser apenas expandida pelo suṣumṇānāḍī, em direção ao Portal de Luz Infinita do Espaço Supraconsciente, i.e. o sahasrāracakra.

A ênfase em que a kuṇḍalinī é um aspecto de nosso próprio Ser, aquilo que realmente somos em nossa mais íntima quintessência – um poder infinito e eterno – e não algo que meramente possuímos em latência, merece uma explicação. Nas tradições tântricas Kaula e Krama, bem como em toda tradição de cunho advaita (não-dualista), somente o Ser é Real. Todo o resto não passa de percepções fenomenais e ilusórias de sua atividade ou manifestação. Assim, o aspecto dinâmico ou vimārśa é realmente a kuṇḍalinī, caso contrário ela seria um fenômeno ilusório e emergente da cognição.

Quando o sādhaka eleva sua kuṇḍalinī ele se liberta das limitações impostas pela manifestação corpórea, ascendendo a sua própria origem. Assim, o objetivo do sādhanā tântrico ou Kuṇḍalinī Yoga é elevar – a kuṇḍalinī – o nosso Ser à sua maior expressão. A atuação da kuṇḍalinī está centrada na vibração primordial universal, denominada como spanda, spanda-śakti ou prāṇa-spanda, reflexos vibracionais da consciência na estrutura sutil de sua própria atividade. Quando nos referimos a estrutura sutil queremos dizer veículos ou corpos denominados como kośas, dehas, śarīras etc. segundo várias tradições, em que o Ser se manifesta como consciência individualizada. Nesta estrutura sutil a vibração primordial (spanda) flui através das nāḍīs que conectam os cakras, centros de poder pelos quais o Ser (a kuṇḍalinī-śakti) ascende de um nível de consciência a outro. Em outras palavras, cada cakra funciona como um portal que permite o fluxo e refluxo da consciência, entre os diversos universos conscientes nos quais ela se manifesta.

Contudo, iconograficamente a kuṇḍalinī é representada, dentro do homem, como uma serpente adormecida, enroscada três voltas e meia em torno do liṅga (o falo, símbolo do poder gerador masculino), obstruindo com sua cabeça a entrada da suṣumṇānāḍī, o canal mais importante dos que circulam o prāṇa. Ela encontra-se na base da coluna vertebral, no mūlādhāracakra. Assim a kuṇḍalinī fora descrita pelos antigos ṛśīs, e quem sabe fosse esta a melhor explicação para um fenômeno tão sutil; contudo, como uma expressão da vibração primordial, a kuṇḍalinī se encontra em movimento constante, uma energia dinâmica que circula por todo o mūlādhāracakra esperando pela oportunidade de ascender pelo suṣumaṇānāḍī.


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